É mais do que oficial. Um levantamento divulgado este mês pelo Ministério da Saúde revelou que AIDS avançou entre os homens.
Realizada em parceria com a Universidade Federal do Ceará, a pesquisa submeteu 3598 indivíduos ao exame de detecção do HIV de 12 cidades brasileiras. Resultado: 18,4% dos participantes estavam infectados pelo vírus, contra 12,1% do experimento anterior, feito em 2016.
Esmiuçadas, as estatísticas revelam uma particularidade. A prevalência da AIDS é especialmente preocupante entre homens que fazem sexo com homens (HSH, na sigla do Ministério). A incidência da doença nesse público aumentou 140% entre 2009 e 2016, sobretudo entre os jovens homossexuais (pessoas com menos de 25 anos).
Diante dessa constatação, as manchetes dos jornais figuraram mais ou menos assim:
“Em 12 cidades brasileiras, um em cada 5 homens que fazem sexo com homens tem HIV” (G1)
“Em SP, 1 a cada 4 homens que transam com homens tem HIV, revela estudo” (FOLHA)
Diante disso, você, que é heterossexual, pode então respirar aliviado, não é mesmo? Claro que a resposta é:
NÃO
A falta de informação tem levado muitos pacientes, tanto heteros, como gays, a pensamentos equivocados em relação às formas de transmissão do HIV . Exemplo: “Mulher não transmite AIDS para homens”.
Errado… Quem não usa camisinha para fazer sexo se expõe ao risco COM CERTEZA, transando com moças ou rapazes (e se você ainda é antigo a ponto de chamar AIDS de peste gay, eu, sinceramente, sinto muito pela sua saúde. Se eu fosse você, corria logo para a Unidade Básica do SUS mais próxima e me testava).
Tudo o que podemos dizer com honestidade e embasamento científico é que:
1) a mulher está mais propensa a se contaminar pela AIDS por alguns motivos. Um deles diz respeito às suas próprias características anatômicas. Durante o ato sexual, afinal, a mucosa da vagina entra em contato o esperma se o casal não usar proteção. E a mucosa, como se sabe, é capaz de absorver o vírus. Além disso, a superfície de contato do genital feminino é muito maior comparada ao masculino, o que também favorece a infecção.
2) No sexo anal (entre parceiros heteros ou homossexuais) o risco de contágio é maior, pois há mais chances de rompimento de vasos e ocorrência de feridas, o que facilita a entrada do HIV para a corrente sanguínea.
Vamos nos lembrar também de um outro assunto sobre o qual já falei aqui: avanço da sífilis, principalmente entre homens, é assustador.
“E o que isso tem a ver com a AIDS, doutor?”. Absolutamente tudo a ver. A infecção por sífilis aumenta significativamente a sensibilidade à infecção pelo HIV.
Some-se a isso o fato de que análises de especialistas dessa realidade apontam que o fenômeno da “medicalização” tem substituído a prevenção. Traduzindo: tem muita gente apostando no uso de antirretrovirais depois a relação sexual desprotegida (conduta chamada de PEP – Profilaxia Pós-Exposição) como a melhor arma para se evitar a contaminação pela doença, deixando de lado outras estratégias importantes. Isso não só no Brasil, como em outros países.
Só posso dizer que a juventude anda mesmo MUITO corajosa. Em primeiro lugar, saiba que os antirretrovirais não foram feitos para isso, mas para casos extremos. Exemplo: estupro, contato acidental de profissionais de saúde com fluidos infectados de pacientes. Em segundo lugar: não pense que você vai tomar esses comprimidos e seguir sua rotina como se tivesse acabado de ingerir um antiácido. Os fármacos em questão (que devem ser usados por um período relativamente longo) tem fortíssimos efeitos colaterais, como náuseas, vômitos e depressão.
E a tal da PrEP, doutor?
Sim, existe hoje o que chamamos de Profilaxia Pré-Exposição ao HIV. Trata-se de um novo método de prevenção à infecção pelo HIV.
A terapia consiste em tomar diariamente um comprimido que impede que o vírus causador da Aids infecte o organismo, antes que a pessoa tenha contato com ele.
Em linhas gerais, a PrEP é a combinação de dois medicamentos (tenofovir + entricitabina) que bloqueiam alguns “caminhos” que o HIV usa para invadir o organismo.
Temos aí então um substitutivo ao uso do preservativo? Mais uma vez:
NÃO
Por uma série de fatores. A PrEP só tem efeito se os comprimidos forem ingeridos todos os dias. Esqueceu de tomar? Ficou exposto à contaminação.
A PrEP também não protege contra outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (sífilis, clamídia, gonorreia e outras).
Trata-se de uma proteção extra útil sobretudo para profissionais do sexo, pessoas que trocam de parceiro com muita frequência e homossexuais (em decorrência do sexo anal).
Não tem outra solução, caros leitores: usar camisinha durante o sexo, qualquer que seja sua orientação sexual, é ESSENCIAL. Aliás, me assusta como uma atitude simples vem sendo cada vez mais negligenciada nos últimos tempos. O mesmo estudo com que abri esse post mostra que 20,4% dos homens testados relataram que já haviam tido relação sexual com mais de 10 pessoas. E, embora 60,9% relatem ter usado preservativo na primeira relação sexual, apenas 33,9% dizem usar em todas as transas, independentemente do parceiro. Esse é o menor porcentual da série histórica da pesquisa com os conscritos, que está em sua sexta edição. Para se ter uma ideia, em 2000, o porcentual de uso regular do preservativo era de 49,7%.
Diante disso, só me resta voltar ao básico do básico do básico. Que tal ler de novo a velha cartilha de orientações sobre o contágio pelo HIV? Leiam com calma e atenção todas as informações, retiradas do material oficial do Ministério da Saúde.
Cuidem-se!
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