Faz tempo que as conversas sobre menopausa extrapolaram o âmbito dos consultórios médicos. Corriqueiro, o assunto vem facilmente à tona até mesmo em situações de humor. “Quem foi que ligou o ar condicionado no máximo num inverno desses? Só pode estar na menopausa!”, costumam brincar os friorentos com aqueles que sentem mais calor.

Ou seja: de modo geral, homens e mulheres estão familiarizados com as características, sintomas e consequências dessa etapa do ciclo reprodutivo feminino e o encaram com muita naturalidade. O mesmo não se pode dizer de um fenômeno parecido que eventualmente também pode afetar os homens: o distúrbio androgênico associado ao envelhecimento masculino (DAEM), tema lamentavelmente cercado por muito desconhecimento e tabus.


Mas diferente do que ocorre na mulher, onde a redução hormonal costuma ocorrer em uma idade específica (menopausa), a diminuição da testosterona nos homens ocorre de maneira lenta. Estima-se que os níveis de testosterona em homens com mais de 40 anos diminuam a uma taxa de 1% ao ano. Por isso o termo andropausa não é o mais adequado para este problema.

O que todo homem sabe, com certeza, é que não quer perder a potência e o vigor sexual com o passar dos anos de jeito nenhum. Paradoxalmente, a maioria de nós sequer já ouviu falar nesse processo tão certo, quanto natural do organismo masculino. O dado consta num levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) em parceria com a Bayer, de 2015. Realizado com por meio de entrevistas com 3.200 homens com mais de 35 anos em oito cidades brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Curitiba), o estudo mostrou que 57% dos participantes desconheciam o termo andropausa por completo. Cerca de 71% dos entrevistados também não conheciam os sintomas do problema. Outro ponto que chama atenção na pesquisa é o fato de que 51% dos homens ouvidos nunca foram ao urologista.

As estatísticas certamente corroboram o que vejo dentro do consultório. Frequentemente atendo pacientes com queixas bem semelhantes as do distúrbio androgênico associado ao envelhecimento masculino (DAEM), certos de que estão sofrendo de todas as doenças possíveis – de HIV a câncer de próstata. Menos do DAEM.

ENTÃO EXPLICA AÍ O QUE É, DOUTOR

Vamos lá. O distúrbio androgênico associado ao envelhecimento masculino (DAEM), corresponde a um processo de queda na produção da testosterona – o hormônio sexual masculino – a partir dos 40 anos, à taxa média anual de 1%. Entre os sintomas mais comumente relatados estão falta de disposição, ausência de energia, irritabilidade, além de dificuldades de ereção e impotência. Em alguns casos raros, há presença de ondas de calor parecidas com as experimentadas pelas mulheres na menopausa.

Em muitos homens, esses sintomas se manifestam de maneira discreta. Há, porém, aqueles que, em decorrência de uma diminuição expressiva dos níveis hormonais, sofrem com esses incômodos a ponto de ter a qualidade de vida significativamente comprometida (mas isso é bem menos comum).

O problema é que os primeiros sinais da “menopausa” masculina são geralmente comportamentais. E se os homens já falam pouco sobre questões mais tangíveis como o câncer de próstata, é claro que negligenciam ainda mais a saúde mental. Muitos atribuem a falta de apetite para a vida causada pelo declínio da testosterona ao estresse, excesso de trabalho, falta de dinheiro e por aí vai.

Resultado: zero diálogo com o médico ou com a família e sofrimento muitas vezes desnecessário.

COMO LIDAR?

O primeiro passo talvez seja aceitar que o envelhecimento traz mudanças e cenários com os quais todos temos que aprender a lidar. Acostumadas a falar sobre seu ciclo reprodutivo desde que menstruam pela primeira vez, as mulheres sabem bem disso. Compreendem, portanto, que o declínio dos hormônios típico da menopausa implica em mudança de hábitos alimentares, busca de ajuda profissional para lidar com as angústias que podem aflorar à medida em que se aproximam da senilidade, visitas mais frequentes ao médico, entre outras medidas do gênero. Ou seja: à beira dos 50 anos, uma mulher dificilmente espera que seu organismo se comporte da maneira como se comportava quando ela tinha 20.

Todo homem, assim, precisa se conscientizar disso: aos 40, já não somos “garotões”. Temos o corpo de um homem maduro que, naturalmente, exigirá mais cuidados. O melhor é que eles sejam adotados de forma preventiva, de preferência, antes da virada dos 30 anos. Quem já começou a sentir dos sintomas do distúrbio androgênico associado ao envelhecimento masculino (DAEM), contudo, também tem muito se beneficiar deles. Listei aqui alguns que considero muito importantes e eficazes para atravessar esse processo de forma mais suave.

Cuide dos seus testículos
Quase toda testosterona que produzimos vem de lá. Portanto não negligencie inflamações, doenças (sobretudo as sexualmente transmissíveis!) e incômodos diversos que você porventura observe na genitália como um todo.

Fique atento à sua dieta
Uma alimentação tem um papel importante na amenização dos sintomas da redução da testosterona. Alimentos como couve, ovo, banana, melancia, mel, espinafre, amêndoas e abacate, por exemplo, são conhecidos por otimizar a produção endógena de testosterona. Procure um nutricionista para te ajudar com isso, ok?

Olho na balança
Engordar altera sensivelmente ação da testosterona, sobretudo após os 50 anos. Tenha em vista, aliás, que o nosso metabolismo desacelera com o tempo, o que favorece o ganho de peso. Rever hábitos alimentares e aumentar o gasto de energia, portanto, é fundamental conforme vamos ficando mais velhos. (também recomendo que você faça isso com o auxílio de um nutricionista).

Evite o sedentarismo
Procure um professor de Educação Física e deixe que o profissional te oriente à prática regular de exercícios. Há estudos consistentes que mostram que o aumento da massa muscular ajuda no equilíbrio de vários hormônios, incluindo a testosterona.

Observe sua circunferência abdominal
Quer um bom motivo? Após os 50 anos, o tamanho da barriga masculina é inversamente proporcional ao seu apetite/desempenho sexual. A explicação está no metabolismo da testosterona, que tem no tecido adiposo um modulador hormonal extremamente ativo.

Encontre maneiras de aliviar o estresse
Eis mais um fator que prejudica o funcionamento da testosterona. Portanto, procure quebrar sua rotina com atividades prazerosas.

NÃO VAI ME RECEITAR UNS HORMÔNIOS, DOUTOR?

Sei que o uso de testosterona está “na moda” e o quanto tem sido aclamada por aí como novo elixir da longevidade e da potência sexual. Inclusive, já abordei esse assunto por aqui.

Do meu ponto de vista, porém (que, aliás, é o mesmo da Sociedade Brasileira de Urologia) a reposição hormonal só é um caminho viável de tratamento do distúrbio androgênico associado ao envelhecimento masculino (DAEM), quando o médico observa queda realmente expressiva nos níveis de testosterona no paciente, ao mesmo tempo em que se certifica que é de fato seguro submetê-lo à essa terapia.

Quando mal indicada, afinal, ela traz consequências como maior chance de AVC, infarto e câncer de próstata, agressividade, ganho de peso, ginecomastia, entre outras bastante perigosas à saúde.

Tome cuidado com os entusiastas da reposição hormonal. Todo especialista responsável faz, junto com o paciente, uma avaliação muito criteriosa antes de recomendá-la.