A prostatectomia, cirurgia para retirada parcial ou total da próstata, é uma intervenção comum no tratamento do câncer de próstata — um dos tumores mais prevalentes entre homens. Apesar de ser, em muitos casos, um procedimento curativo, ela pode causar efeitos adversos que comprometem significativamente o bem-estar do paciente. Um dos mais comuns e angustiantes é a incontinência urinária pós-prostatectomia.
Essa condição, que afeta a capacidade de controlar o fluxo urinário, impacta não apenas a saúde física, mas também o emocional e o social do homem. No entanto, a recuperação da qualidade de vida é possível e envolve uma abordagem multidisciplinar que integra fisioterapia, exercícios de Kegel, ajustes no estilo de vida e, em alguns casos, tratamentos médicos ou cirúrgicos.
O que é a incontinência urinária pós-prostatectomia?
A incontinência urinária após a retirada da próstata refere-se à perda involuntária de urina, que pode variar de pequenos escapes ao longo do dia até perdas mais intensas. Essa condição geralmente é transitória, mas em alguns casos pode se tornar crônica.
Tipos mais comuns
- Incontinência de esforço: ocorre ao tossir, espirrar, rir ou levantar pesos.
- Incontinência de urgência: caracterizada por uma necessidade súbita e incontrolável de urinar.
- Mista: combinação dos dois tipos acima.
Por que a prostatectomia causa incontinência?
A próstata envolve parte da uretra e está situada abaixo da bexiga. Durante a prostatectomia, os músculos e nervos responsáveis pelo controle da micção podem ser afetados. Entre os principais motivos para a incontinência, destacam-se:
- Danos ao esfíncter urinário
- Lesões nos nervos que controlam a bexiga
- Inflamação ou trauma cirúrgico temporário
O risco varia conforme o tipo de cirurgia (prostatectomia radical aberta, laparoscópica ou robótica), a idade do paciente e o tempo de recuperação.
Impactos na qualidade de vida
A perda do controle urinário pode ser devastadora. Homens relatam:
- Vergonha e constrangimento
- Redução da autoestima
- Isolamento social
- Depressão e ansiedade
- Prejuízos na vida sexual
Por isso, tratar a incontinência é tratar também o bem-estar integral do paciente.
Caminhos para a recuperação da qualidade de vida
- Fisioterapia pélvica
A fisioterapia do assoalho pélvico é uma das primeiras e mais eficazes abordagens. Ela fortalece os músculos responsáveis pelo controle da bexiga e melhora a coordenação muscular.
Benefícios
- Acelera o retorno à continência
- Reduz a necessidade de medicação ou cirurgia
- Melhora a função sexual
- Exercícios de Kegel
Os exercícios de Kegel consistem em contrair e relaxar os músculos do assoalho pélvico.
Como fazer
- Identifique o músculo interrompendo o fluxo de urina por alguns segundos (não deve ser feito durante a micção com frequência)
- Contraia o músculo por 5 segundos, depois relaxe por 5 segundos
- Repita 10 vezes, 3 vezes ao dia
A prática regular pode trazer resultados em semanas ou meses, dependendo do grau da incontinência.
- Mudanças no estilo de vida
Algumas medidas simples podem reduzir episódios de perda urinária:
- Evitar cafeína, álcool e alimentos cítricos
- Reduzir o consumo de líquidos antes de dormir
- Manter o peso saudável
- Praticar atividades físicas de baixo impacto, como caminhadas e pilates
- Medicamentos
Em alguns casos, especialmente quando há hiperatividade da bexiga, o médico pode prescrever:
- Antimuscarínicos ou beta agonistas para controlar espasmos vesicais
- Desmopressina, em casos específicos de nictúria
- Tratamento cirúrgico
Se após 6 a 12 meses de tratamento conservador a incontinência persistir, pode-se considerar intervenções cirúrgicas:
- a) Esfíncter urinário artificial (EUA)
Dispositivo implantado para simular a função do esfíncter natural, considerado o padrão-ouro nos casos mais graves.
- b) Slings uretrais masculinos
Faixas sintéticas posicionadas para oferecer suporte à uretra e prevenir escapes de urina.
- c) Injeções de bulking agents
Substâncias aplicadas na uretra para ajudar a fechá-la melhor durante o esforço.
O papel do apoio psicológico
A saúde emocional também deve ser cuidada. Sessões com psicólogos especializados podem ajudar o paciente a lidar com sentimentos de frustração, medo ou vergonha, promovendo uma reinserção social mais segura e saudável.
Expectativas realistas e tempo de recuperação
A maioria dos homens apresenta melhora significativa da continência urinária dentro de 3 a 6 meses após a cirurgia, mas em alguns casos, o processo pode durar até 1 ano. Ter expectativas realistas e manter o engajamento no tratamento é fundamental para o sucesso.
Em síntese, a incontinência urinária pós-prostatectomia, embora impactante, não precisa ser definitiva. Com o suporte adequado, é possível retomar a qualidade de vida, reconstruir a autoestima e voltar a atividades sociais, profissionais e íntimas com segurança. A chave está em um tratamento individualizado e multidisciplinar, que considere tanto os aspectos físicos quanto emocionais do paciente.
Se você, ou alguém próximo, está enfrentando esse desafio, saiba que não está sozinho — e que há soluções acessíveis e eficazes. Converse com seu médico urologista, busque suporte especializado e comece sua jornada de recuperação com confiança.
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