O diagnóstico de cânceres urológicos, como os de próstata, pênis ou bexiga, representa um grande desafio tanto para os profissionais de saúde quanto para os pacientes. Em muitos casos, é necessário ir além da remoção do tumor primário para garantir que a doença não se espalhe. Uma das estratégias utilizadas é a linfadenectomia pélvica, um procedimento cirúrgico que envolve a retirada de gânglios linfáticos da região da pelve, com o objetivo de avaliação, controle ou erradicação da disseminação da doença.

Mas afinal, quando a linfadenectomia pélvica é necessária? O que ela revela? Quais os riscos e benefícios? Neste artigo, vamos responder a essas perguntas com base nas melhores evidências disponíveis, abordando de forma clara o papel fundamental desse procedimento na oncologia urológica.

O que é a linfadenectomia pélvica?

A linfadenectomia pélvica é um procedimento cirúrgico que consiste na remoção dos linfonodos (gânglios linfáticos) localizados na pelve — área entre o abdômen inferior e as pernas. Os linfonodos fazem parte do sistema linfático, responsável por ajudar o corpo a combater infecções e drenar líquidos. Quando há um câncer, as células tumorais podem migrar para os linfonodos próximos, tornando a avaliação dessa região crucial no estadiamento e controle da doença.

Esse exame tem duas finalidades principais:

  • Diagnóstica: verificar se o câncer se espalhou para os linfonodos (metástase linfática).

  • Terapêutica: remover os linfonodos afetados para evitar a progressão da doença.

Quando a linfadenectomia pélvica é indicada?

A indicação da linfadenectomia pélvica depende de diversos fatores, como o tipo de câncer, o grau de agressividade, a extensão do tumor e a resposta a tratamentos prévios. Veja os principais casos:

  1. Câncer de próstata

A linfadenectomia pélvica é frequentemente indicada em pacientes com câncer de próstata de risco intermediário ou alto. Ela costuma ser realizada durante a prostatectomia radical (cirurgia de retirada da próstata) com o intuito de identificar a presença de metástases linfáticas.

Critérios que indicam a necessidade do exame:

  • PSA elevado (>10 ng/mL)

  • Gleason score ≥ 7

  • Estadiamento clínico T2b ou superior

  • Presença de margens tumorais comprometidas

A linfadenectomia fornece informações essenciais para definir o prognóstico e guiar tratamentos complementares, como radioterapia ou terapia hormonal.

  1. Câncer de bexiga

No câncer de bexiga invasivo, especialmente nos casos em que é indicada a cistectomia radical (remoção da bexiga), a linfadenectomia pélvica é parte do tratamento-padrão. Isso porque:

  • Os linfonodos pélvicos são as primeiras estruturas a receber metástases.

  • A linfadenectomia aumenta a acurácia do estadiamento.

  • Sua realização está associada a melhores taxas de sobrevida.
  1. Câncer de pênis

Pacientes com câncer de pênis de alto risco, com invasão de estruturas profundas ou presença de linfonodos palpáveis, também podem ser candidatos à linfadenectomia pélvica. Nesses casos, a cirurgia pode ser feita após a linfadenectomia inguinal (remoção dos linfonodos da virilha), se houver evidência de acometimento linfático mais extenso.

  1. Outras neoplasias pélvicas

Embora menos frequente, a linfadenectomia pélvica pode ser utilizada em casos selecionados de:

  • Câncer de colo uterino e endométrio (em mulheres)

  • Tumores testiculares avançados

  • Sarcomas pélvicos

Como é realizada a linfadenectomia pélvica?

O procedimento pode ser realizado por via:

  • Aberta (cirurgia tradicional)

  • Laparoscópica

  • Robótica

Durante a cirurgia, são removidos os linfonodos das principais cadeias pélvicas: ilíaca externa, ilíaca interna (hipogástrica) e obturatória. A extensão da linfadenectomia (limitada ou ampliada) depende do risco oncológico e da experiência da equipe.

Em geral, o paciente recebe anestesia geral, e a duração da cirurgia varia entre 2 a 4 horas, podendo ser maior quando associada à retirada do órgão primário (próstata, bexiga, etc.).

Benefícios do procedimento

A linfadenectomia pélvica pode oferecer vantagens importantes no tratamento do câncer:

  • Melhor estadiamento: identificar precocemente se há metástases.

  • Melhora na sobrevida: especialmente em cânceres de bexiga e próstata com alto risco.

  • Controle local da doença: reduz a chance de recidiva.

  • Guia para tratamentos complementares: como radioterapia e quimioterapia.

Quais são os riscos e complicações?

Como qualquer cirurgia, a linfadenectomia pélvica envolve riscos, principalmente quando realizada de forma extensa. Os mais comuns incluem:

  • Formação de linfocele (acúmulo de líquido linfático)

  • Infecções urinárias

  • Trombose venosa profunda

  • Lesão de vasos ou nervos

  • Edema (inchaço) nos membros inferiores

  • Disfunção erétil, especialmente se associada à prostatectom

Apesar disso, a taxa de complicações graves é relativamente baixa em centros especializados.

Recuperação e cuidados pós-operatórios

Após o procedimento, o paciente costuma permanecer internado por alguns dias. A recuperação envolve:

  • Uso de drenos para evitar acúmulo de líquidos

  • Monitoramento da função urinária

  • Fisioterapia para prevenção de trombose

  • Cuidados com a ferida cirúrgica

  • Acompanhamento oncológico rigoroso

O retorno às atividades cotidianas depende da extensão da cirurgia e da resposta individual, mas geralmente acontece entre 3 e 6 semanas.

Por fim, podemos dizer que a linfadenectomia pélvica é um exame cirúrgico fundamental na abordagem de cânceres urológicos de alto risco. Mais do que uma simples retirada de linfonodos, ela representa uma ferramenta estratégica no diagnóstico, estadiamento e controle da doença, contribuindo diretamente para o aumento da sobrevida e da qualidade de vida do paciente.

Embora envolva riscos, seu papel é amplamente reconhecido pela medicina moderna, principalmente quando realizada por equipes experientes e com indicações bem definidas. Se você ou alguém próximo recebeu um diagnóstico de câncer de próstata, bexiga ou pênis, converse com seu urologista sobre a possibilidade da linfadenectomia e entenda como ela pode ser aliada no seu tratamento.