Hoje é o Dia Internacional de Prevenção do Suicídio, e apesar de esse ser um assunto desconfortável para muitas pessoas, é fundamental falarmos sobre ele. Infelizmente, os indíces de suicídio aumentaram depois do começo da pandemia de Covid-19 e, na verdade, eles já vinham aumentando ao longo dos anos.
Uma crença comum (e equivocada!) a respeito do suicídio é que, quando a pessoa decide praticar algum alto de violência contra si mesma, não é possível mudar de ideia. Na verdade, o suicídio é entendido como uma morte evitável e o primeiro passo para isso é falarmos do assunto de maneira mais aberta e honesta.
Como urologista, considero parte do meu trabalho abordar a saúde mental masculina e, embora as tentativas de suicídio sejam mais comuns entre as mulheres, são os homens, especialmente os negros, os que se matam mais, de acordo com o Ministério da Saúde.
Em todos os anos de registro no Brasil, a faixa etária dos 15 aos 29 anos é a mais afetada pelo suicídio.
Meios utilizados pelos homens costumam ser mais letais
De acordo com um estudo da Universidade de Brasília (UnB), todas as fases do comportamento suicida são marcadas pelo gênero. Dados apontam que a forma mais comum de violência autoprovocada entre os jovens de 15 a 29 é o envenenamento, tanto entre homens quanto entre as mulheres.
Entretanto, os outros meios utilizados pelos homens são os mais letais, sendo escolhidos em maior quantidade por eles do que pelas mulheres, inclusive com o uso de arma de fogo.
Além disso, o estudo destaca que uma das principais diferenças de gênero nos registros de violência autoprovocada é o fato de que os homens guardam para si os seus problemas de saúde, especialmente o sofrimento mental. Isso pode interferir no registro de casos.
Depressão masculina e sinais para ficar atento
Nem sempre a ideação suicida ou atos de autoviolência estão relacionados à depressão, mas é comum que as duas coisas estejam relacionadas. Entre os homens, a dificuldade de admitir que está em sofrimento mental ou em identificar os sintomas de depressão se tornam obstáculos para a prevenção do suícidio.
Historicamente, os homens foram ensinados a esconder seus sentimentos, reprimindo emoções negativas. Muitas vezes, esse hábito acaba se refletindo em dificuldades na relação, agressividade, problemas no trabalho e até mesmo comportamentos de risco como sexo desprotegido, direção perigosa e envolvimento em brigas.
Dado o envolvimento dessa parcela da população masculina com atividades consideradas perigosas, não surpreende que eles recorram a meios de tirar a própria vida que sejam mais letais.
O assunto é complexo e envolve muitas outras nuances. As campanhas buscam valorizar a vida, mas a nossa própria estrutura social favorece o sofrimento mental, por meio da desigualdade e o preconceito. Não podemos nos esquecer que são os homens negros que mais tiram a própria vida, o que sem dúvidas dialoga com o impacto do racismo na saúde como um tood.
Apesar de tantos desafios a serem superados, fico satisfeito que a saúde mental tem sido mais discutida, especialmente entre os homens. Esse é o primeiro passo para que mais pessoas possam ser acolhidas da maneira adequada.
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