Se você é fumante, fique tranquilo. Esse post é 100% livre de sermões e julgamentos. Em quase duas décadas de medicina, afinal, pude observar que juízos de valor e abordagens moralizantes ajudaram um total de… zero pessoas.
A intenção deste texto tampouco é fazer terrorismo. Sim, o cigarro mata, como bem sabemos eu, você e o mundo todo desde os anos 1950, quando estudos consistentes começaram a comprovar e a alertar para a potencial letalidade do tabagismo.
Fato é que temos um problema concreto de saúde pública a resolver: segundo dados da OMS, 20% da população mundial fuma, ou seja,1,1 bilhão de indivíduos. O hábito é mais frequente entre homens. Publicada no renomado periódico The Lancet em abril de 2017, uma outra pesquisa – esta, conduzida pela Bill & Melinda Gates Foundation em 195 países de 1990 a 2015 -, constatou que uma em cada quatro pessoas do sexo masculino faz uso de cigarro. Entre as mulheres, o índice é de uma para cada 20.
O mesmo levantamento situou o Brasil nesse contexto. Ocupamos a oitava posição em números absolutos fumantes – 7,1 milhões de mulheres e 11,1 milhões de homens). A boa notícia é que tivemos uma das mais significativas quedas do tabagismo durante o período analisado. Em 25 anos, o país viu a porcentagem de fumantes diários despencar de 29% para 12% entre homens, e de 19% para 8% entre mulheres.
A investigação verificou ainda que o tabaco é responsável por uma em cada dez mortes no planeta, causadas sobretudo por problemas cardiovasculares, acidentes vasculares cerebrais e câncer (incluindo o de próstata).
Minha maior preocupação, portanto, é em contribuir de forma efetiva para a longevidade e a qualidade de vida de quem ainda fuma. Por isso trouxe aqui alguns métodos que podem auxiliar nessa difícil empreitada – todos retirados do Manual Pare de Fumar, publicado pelo Ministério da Saúde. Vale a pena tentar! Não desista, ainda que você já tenha feito várias tentativas. O caminho rumo a libertação do cigarro é tortuoso, mas acredite: a vitória é realmente gratificante.
Alternativas para largar o cigarro
O emplastro de nicotina
Tem como objetivo não a substituição do vício pela nicotina, mas tornar os períodos de abstinência mais longos e toleráveis. Age liberando pequenas quantidades de nicotina, o que é de certa forma útil, contrastando com os picos e depressões associadas a outros tipos de medicações, que podem levar a exacerbações dos sintomas de abstinência.
É utilizado diariamente por 3 meses. Costuma ter bons resultados, e normalmente aqueles que falham são os que suspenderam precocemente. Não se trata de uma cura mágica para o vício. Requer força de vontade, e, combinado com esta, é uma ajuda valiosa. Um em cada cinco usuários dedicados consegue se livrar do vício apenas com o emplastro.
Bupropiona
Comercializado com o nome de Zyban, é na verdade um anti-depressivo. É medicação controlada, ou seja, só se consegue comprar com receita apropriada.
Apesar de não ter sido criada para combater o tabagismo, ajuda a controlar os sintomas da abstinência. Possui alguns efeitos colaterais como boca seca e dificuldade para dormir. Tem a vantagem de não conter nicotina, portanto, não vicia.
Chiclete de nicotina
De forma semelhante ao emplastro, o usuário faz uso do chiclete quando sente vontade de fumar, ajudando a reduzir os sintomas de abstinência. Apresenta a vantagem de uma quantidade razoável de chicletes poder ser mascada diariamente (até 24), quando der vontade, mantendo a mente e a boca ocupadas.É tão efetivo quanto o emplastro, e também utilizado por 3 meses. Novamente, é necessária muita força de vontade.
Inalador de nicotina
Trata-se de uma espécie de “cigarro que não precisa ser aceso”, com doses leves de nicotina, e mentol associado. Associa a dosagem controlada de nicotina, à satisfação momentânea do vício (assim como o chiclete), e adicionalmente, há o efeito psicológico em satisfazer o desejo de levar um “cigarro” à boca. Os resultados são semelhantes aos outros métodos que utilizam doses de nicotina.
Parada abrupta
Algumas pessoas preferem não usar qualquer tipo de terapia ou medicamento para cessar o vício e, assim, optam pela parada imediata. O método consiste em marcar uma data para largar cigarro. A partir desse dia, a pessoa então interrompe o hábito nocivo. Minha sugestão é que os adeptos dessa estratégia procurem acompanhamento psicológico, tratamento que reduz sensivelmente as chances de reincidência no vício.