Curioso como a vasectomia é normalmente um procedimento associado a jogadores de futebol, artistas e outras celebridades (solteiras ou não) que querem evitar “filhos-surpresa” e consequentes disputas judiciais por pensão alimentícia. Naturalmente que se trata de uma operação que pode servir a esse propósito, mas percebem a conotação machista dessa ideia? É como se estivéssemos falando de uma estratégia que nos “defende” das mulheres e suas “ocultas intenções”.
Prefiro encarar esse método contraceptivo pelo que ele de fato é (ou deveria ser): parte integrante do planejamento familiar – pacote de ações sob responsabilidade de ambos os sexos que visa não só evitar filhos indesejados, como promover e preservar a saúde de homens, mulheres e crianças.
Talvez por isso a vasectomia ainda esteja tão cercada de tabus. Estamos (bem mal) acostumados a ver a contracepção como atribuição quase que exclusiva de nossas parceiras sexuais. Por isso, ao contrário delas que, desde o início da puberdade frequentam consultórios médicos para discutir alternativas de prevenção à gravidez não planejada, muitos de nós seguem na total ignorância do funcionamento do sistema reprodutor masculino.
Ocorre que os avanços sociais e da ciência vêm trazendo novos tempos, em que há cada vez menos espaço para tal comodismo. Cada vez mais homens vêm sendo convocados a participar seriamente dessa discussão em relacionamentos. Se você ainda não foi, saiba que é questão de tempo.
Melhor então que esteja preparado. Vamos, então, falar de homem para homem sobre a cirurgia de esterilização? Preparei abaixo um guia sobre essa intervenção cirúrgica, que chamei de
Manual do seu sistema reprodutor
O mapa
Esse é o seu sistema reprodutor (em versão básica). Em linhas gerais, é assim que ele funciona durante o sexo:
Você atinge o grau máximo de estimulação sexual. Seus centros neurais, localizados na extremidade da medula espinhal, enviam impulsos aos órgãos genitais, para que iniciem movimentos rítmicos de contração. Esse estímulo começa nos músculos do epidídimo, que fica bem atrelado aos testículos – a fábrica de espermatozóides. Eles estão começam a viagem pelos canais deferentes e passam pela glândula seminal, onde são misturados a um fluido seminal. De lá, a mistura vai para a próstata para ser mesclada ao líquido prostático e finalmente expulsa através da uretra.
Como é a cirurgia
Vasectomia nada mais é que um corte feito nos dutos deferentes para interromper a circulação de espermatozóides dos testículos à próstata
Realizado com anestesia local, o procedimento é relativamente simples. O médico faz uma pequena infiltração, seguida de incisões de cerca de 1cm em cada lado do saco escrotal. Em seguida, corta os canais deferentes e insere entre um ponto e outro da laceração um pedaço de tecido conjuntivo, para evitar a recanalização.
Vou parar de ejacular?
Não. Os líquidos produzidos na glândula seminal e na próstata continuarão a ser liberados normalmente durante a ejaculação. Só que sem espermatozóides, impedidos de circular pelos canais deferentes, graças à cirurgia.
Meu esperma vai ficar diferente?
Não. O volume, o cheiro, gosto e cor do esperma permanecem inalterados. A única maneira de saber se o houve ou não vasectomia é colocando o líquido no microscópio.
Vai doer, doutor?
Não dói não. A operação, inclusive, dura cerca de 20 minutos. Para que o paciente se recupere adequadamente, contudo, sexo e exercícios intensos devem ser evitados durante 7 dias.
O efeito da esterilização é imediato?
Antes de abolir os outros métodos contraceptivos, recomenda-se esperar pelo menos 40 dias, Isso porque podem restar espermatozóides no interior dos dutos cortados. Esses sobreviventes, portanto, ainda podem fecundar alguém.
Posso confiar 100% no método?
As chances de falha são bem pequenas. Em alguns casos (um em 2 mil) os dutos rompidos se regeneram, mas é bem raro. Às vezes a operação também não funciona por conta de uma infecção, que leva à recanalização dos canais. Nesse caso, o médico volta a aconselhar o uso de outros recursos de contracepção até que o problema seja solucionado.
Corro algum risco de passar a broxar?
Por causa da vasectomia, não. O desempenho do homem, muitas vezes, até melhora, pois ele passa a transar mais relaxado, sem medo de engravidar a parceira.
Minha companheira tem que autorizar o procedimento?
Aham. É uma condição prevista pela lei nº 9.263. Os dois cônjuges devem estar de acordo com a vasectomia. O candidato ao procedimento também deve ter mais de 25 anos ou pelo menos dois filhos vivos. A não ser que a gravidez represente potencial risco à vida da parceira. Nesse caso, a operação pode ser feita em qualquer idade, mesmo se o casal não tiver filhos.
E se eu depois mudar de ideia e quiser ser pai?
Teoricamente, dá para reverter a vasectomia. O procedimento cirúrgico que isso envolve, no entanto, já é bem mais complexo e nem sempre eficaz. O que mais interfere no sucesso da reversão é o tempo decorrido desde a esterilização. Até cinco anos após da cirurgia, o êxito chega a 80%. Dez anos depois, as chances são reduzidas para 50%. Mais do que isso, o paciente tem a possibilidade de voltar a ser fértil reduzida para 30%
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