Sabe do que eu realmente gosto de falar? Do futuro. De progressos. De cura. De doenças erradicadas. De comportamentos coletivos modificados para melhor. De projeções otimistas.

Infelizmente, preciso falar sobre sífilis, esse “trending topic” da Idade Média. Que outro assunto, afinal, pode ter um urologista diante da notícia de que houve aumento dos casos notificados da enfermidade em países de todo o mundo?

Comecemos pelo nosso quintal. Segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, publicado em novembro de 2017, o Brasil registrou aumento de  27,9% nos casos de sífilis adquirida (em adultos) entre 2015 e 2016. Só neste último ano, houve 87.593 novas contaminações. As infecções congênitas (passadas de mãe para filho na gestação) também cresceram 4,7% no mesmo período.

A DST é predominante no sexo masculino: do total de contaminados, há 60,1% de brasileiros para 39,9% de brasileiras. Em Minas, essa discrepância é ainda maior, com 69,4% de homens infectados para 30,5% de mulheres.

Acima da linha do Equador, o cenário também é alarmante. Nos Estados Unidos, o relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) de 2017 aponta que a sífilis avançou em todas as regiões e em quase todas as faixas etárias. Já na Inglaterra, dados do Public Health England (PHE) – o departamento inglês de saúde pública – revelam que a doença atingiu o maior nível desde 1949. Fechando a fatura, temos estatísticas da Organização Mundial de Saúde (OMS): a cada ano, 12 milhões de pessoas contraem sífilis no planeta. A patologia é ainda a segunda maior causa de mortalidade entre recém-nascidos no mundo.

Há pouco mais de 500 anos, números dessa mesma proporção significariam praticamente o extermínio da nossa espécie. No fim do século XV, a sífilis, causada pela bactéria Treponema pallidum, era nada menos que a praga sexual que varria a Europa. Só após a Segunda Guerra Mundial, com a descoberta da penicilina, é que veio a cura efetiva. O tratamento é relativamente simples: na maioria das vezes, bastam algumas injeções de antibiótico. Apenas nos casos de sífilis terciária ou neurosífilis a internação hospitalar costuma ser necessária, pois, nesse estágio, a enfermidade tem outras complicações.

A melhor alternativa, obviamente, continua sendo a prevenção. Ou seja: uso de preservativo durante as relações sexuais. Será que é aí que andamos baixando a guarda para o avanço da infecção? No caso do Brasil, não é essa a causa direta apontada pelo Ministério da Saúde. De acordo com a instituição, nosso atual cenário é resultado de um desabastecimento da penicilina, além do aumento nos diagnósticos, possibilitado pela distribuição de testes na rede pública.

Diversos levantamentos relacionados ao uso de camisinha realizadas pelo mesmo órgão, no entanto, parecem acrescentar outras variáveis à discussão. Por exemplo, a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE). Realizado com alunos de 13 a 15 anos de escolas públicas e privadas entre 2012 e 2015, o estudo mostra redução preocupante no uso da camisinha entre adolescentes. Em 2015, 66,2% dos estudantes com vida sexual ativa declararam ter se protegido na última vez que transaram. Em 2012, a taxa era de 75,3%.

Sinto decepcionar essa rapaziada que pensa que sífilis é coisa de filme medieval. Ou mesmo que trata-se de uma doença “bobinha” que não merece atenção. A infecção por sífilis, para quem não sabe, aumenta significativamente a sensibilidade à infecção pelo HIV. Além disso, o tratamento da DST em pacientes co-infectados pelo vírus da AIDS pode tornar-se complicado, pois passa a depender da integridade do sistema imunológico do soropositivo.

Claro que vou deixar aqui um super esquema com informações básicas que todo mundo deve saber sobre sífilis. Presta atenção, hein! Baixe aqui