O que o medo do toque retal nos prova, no fim das contas, é que as fobias não têm mesmo nada de lógico. Lógico, afinal, seria temer o câncer de próstata. Este sim, quando não tratado a tempo, pode ocasionar prejuízos físicos, psicológicos e sociais de difícil superação. Impotência, incontinência urinária, apenas para citar alguns deles.

Já o exame de toque é um procedimento indolor e muito rápido. Entre o momento em que o urologista veste a luva de látex e o instante em que diz “pronto, pode se. vestir, senhor”, leva dois minutos, no máximo. É, portanto, certamente um fenômeno de raíz 100% irracional esse que leva tantos homens a atribuírem a um teste absurdamente simples tamanhos poderes sobre a masculinidade.

Mas, enfim, vamos à pergunta que deu origem a esse post — sem dúvida, uma das mais frequentemente feitas aos médicos brasileiros.“Eu tenho mesmo que fazer o exame de toque retal, doutor?”. Respondendo de forma franca e direta: talvez. Já a resposta completa seria: depende da sua idade, do seu perfil genético e do seu histórico de saúde.


Pausa para entender para que serve e como é feito toque retal

Antes de expor aqui o que de fato interessa para você os critérios que qualificam ou. não o homem para a realização do exame de toque, não custa recapitular algumas informações importantes.

O toque retal ou exame de próstata serve para detectar a hiperplasia benigna da. glândula (aumento natural) ou a presença de tumores malignos na área.

Para realizá-lo, o urologista insere o dedo indicador devidamente lubrificado e protegido por uma luva de látex no ânus do paciente, a fim de examinar a região situada no fim do intestino grosso.

A intenção do médico é tão somente verificar, por meio do tato,  o tamanho, densidade e formato da próstata, procurando por caroços, pontos moles ou. endurecidos e outras anormalidades. Ás vezes, pedimos para que o paciente faça força como se fosse defecar. O ânus, assim, fica mais acessível, o que torna o procedimento mais rápido.

Se você nunca fez o exame de próstata, não tema ter que ficar em posições vexatórias dentro do consultório. Isso de maneira alguma é necessário. Há casos em que a pessoa pode se posicionar até mesmo de pé. O mais importante é manter-se o mais relaxado possível.

O toque é geralmente feito junto com um outro teste, chamado PSA (Antígeno Prostático Específico), que mede a concentração de uma enzima produzida pela próstata no sangue.

Quem deve fazer o toque retal, a partir de quando?

Até 2008, era comum ver campanhas governamentais como a Novembro Azul incentivando todos os homens acima dos 45 anos a se submeterem aos exames de rotina (toque retal e PSA). O que faz algum sentido dentro da perspectiva de que o diagnóstico precoce é o melhor caminho para a cura do câncer de próstata.

Ocorre que, depois de rever estudos publicados desde a década de 1950 sobre o assunto, pesquisadores de países como o Canadá e os Estados Unidos verificaram que o rastreamento universal não reduz significativamente a mortalidade pela doença.

Outra constatação foi de que o resultado do PSA e do toque retal, não raro, levam à  recomendação de cirurgias e terapêuticas desnecessárias a pacientes assintomáticos, cujos tumores, quando encontrados, são muitas vezes inofensivos.

A retirada total da próstata, a radioterapia, as biópsias e outros procedimentos do clássico protocolo de combate ao carcinoma prostático podem, portanto, afetar sobremaneira a qualidade de vida do indivíduo sem que haja aí uma vantagem real pra ele. Muitos desses tumores permanecem “quietos” no organismo do paciente sem causar grandes prejuízos.

Diante dessas conclusões, o protocolo de rastreio do câncer de próstata foi então atualizado.

Acompanhe algumas de suas mais importantes diretrizes: toque retal
  • Recomenda-se a avaliação de todos os homens com mais de 50 anos, desde..que sua expectativa de vida compreenda ao menos mais uma década. Caso contrário, o benefício de um possível tratamento não compensará as complicações associadas.
  • Sobre idade para iniciar os exames  preventivos: depende do risco associado ao perfil do paciente.
    • 50 anos para homens de risco igual ao da média;
    • 45 anos para os de alto risco (descendentes de negros familiares. de primeiro grau diagnosticados com de câncer de próstata antes dos 65 anos);
    • 40 anos para os de altíssimo risco (diversos parentes com câncer de próstata diagnosticado antes dos 65 anos).
  •  Níveis de PSA abaixo de 2,5 ng/mL:  o exame pode ser repetido. apenas a cada 2 anos (ao contrário da repetição anual recomendada anteriormente). Quando os níveis estiverem acima desse valor, o exame deve ser anual;
  • PSA entre 2,5 e 4,0 ng/mL requer conduta individualizada:. biópsia quando houver risco mais alto (ascendência negra, história familiar de câncer de próstata, idade mais avançada e. toque retal alterado).

Dúvidas? É só me chamar nos comentários. Até semana que vem!