Precisamos falar sobre depressão masculina

Muitas vezes nós, urologistas, desempenhamos um papel a mais no nosso consultório: o de psicólogo. Principalmente porque muitos homens ainda têm um pensamento extremamente racional acerca de si mesmos e de seus problemas quando, na verdade, há questões muito mais profundas que precisamos trazer à luz.

Se tem uma coisa que tantos anos de urologia me ensinaram é que certas queixas masculinas, não raro, constituem a ponta de um iceberg que, muitas vezes, atende pelo nome de depressão.

E é justamente sobre esse tema tão importante que eu gostaria de conversar com vocês hoje, neste Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como “mal do século XXI”, a depressão afeta 322 milhões de pessoas no mundo (dados da própria OMS). Em uma década – de de 2005 a 2015 – esse número cresceu 18,4%, o que é bem preocupante.

A prevalência do transtorno na população mundial é de 4,4%. Já no Brasil, 5,8% da população enfrenta esse problema, ou seja: 11,5 milhões de brasileiros.  Na América Latina, aliás, somos campeões do ranking de deprimidos e, na américas, ficamos atrás apenas dos Estados Unidos.

Ainda de acordo com OMS, apenas 10% das pessoas conseguem ter acesso a estratégias de tratamento e prevenção dessa doença, cujo desfecho, em muitos casos, é o suicídio – sobretudo entre os homens. Enquanto as mulheres são mais propensas à depressão, a prevalência de autoextermínio entre nós é significativamente maior, numa proporção de 4 para 1.

Sintomas da depressão masculina

Estamos falando, portanto, de um mal que, entre os homens, é mais letal. E por quê? O primeiro motivo é que a depressão masculina é mais silenciosa. Em nossa cultura, infelizmente machista, homem não chora, nem expõe seus sentimentos. Deste modo, enquanto as mulheres estão acostumadas a falar sobre suas tristezas, entre outras questões internas, assim como a buscar ajuda e informação, nós ainda somos seres muito reprimidos pela cultura do machão.  

Normalmente, só buscamos esse tipo de tratamento quando obrigados pela mãe, irmã ou namorada. Dificilmente, o homem toma a iniciativa de cuidar de sua saúde mental. Quando (e se) ele procura um médico espontaneamente, a intenção é quase sempre resolver problemas aparentemente superficiais, mas que já começaram a afetar terceiros. Suas queixas, nesse sentido, normalmente são:

  • Não tenho vontade de fazer sexo e isso está acabando com meu casamento;
  • Sinto raiva o tempo todo e isso está arruinando minha vida profissional;
  • Tudo o que eu quero fazer no meu tempo livre é dormir porque trabalho muito e me sinto cansado, mas as pessoas não entendem isso.

E é claro que 99% desses relatos terminam com um pedido de “remédio” que faça o sujeito parar de ser incomodado e/ou de incomodar os outros. Esses, no entanto, são justamente os sinais que podem indicar a presença da depressão que, em nós, têm ainda as seguintes peculiaridades:

  • Abuso de pornografia
  • Dedicação em excesso ao trabalho (o homem se torna um workaholic)
  • Perda de apetite para a vida e da capacidade de tomar decisões
  • Emagrecimento (perda de 5% do peso em cerca de um mês, por exemplo) ou ganho de peso
  • Falta de apetite ou compulsão alimentar
  • Adoção de comportamentos de risco (dirigir em alta velocidade, jogos de azar etc)
  • Maior frequência do consumo de álcool e outros psicotrópicos

Como sair dessa

Infelizmente, eu não posso oferecer nenhuma solução mágica, tampouco remédio milagroso. Mas posso apontar um caminho de cura ou convivência com a depressão (sim, em alguns casos, a doença é crônica). Alguns passos importantes nessa direção incluem:

👉 Procurar ajuda

Deixe que um profissional (psicólogo e/ou psiquiatra) avalie a melhor abordagem para a restauração do seu equilíbrio emocional.

👉 Fique atento aos seus níveis de testosterona

Homens com níveis baixos desse hormônio têm mais risco de desenvolver depressão. A testosterona, afinal, estimula a produção de dopamina, o mediador químico do humor.

👉 Regule seu sono

Noites mal-dormidas elevam o estresse e, assim, podem nos deixar melancólicos.  Aliás, tanto a insônia, quanto o excesso de sono são indícios de depressão. Procure dormir, no mínimo 7 e no máximo 9 horas por noite.

👉 Pratique exercícios

Diversos estudos têm demonstrado que o exercício físico é um poderoso aliado dos antidepressivos no tratamento da depressão.

👉 Cuide da sua alimentação

Há também pesquisas que demonstram como alimentos naturais e integrais como ovos, carne, legumes e frutas auxiliam no processo de recuperação de crises depressivas, assim como  o junk food atrapalha.

Minha última e principal recomendação é: reconheça-se frágil. Como bem define o psicólogo e autor paulista Frederico Mattos: “A depressão masculina é um tipo de lembrete da própria humanidade do homem que é chacoalhado em sua tentativa de se defender dos seus próprios medos.”

3 coisas que você precisa saber sobre esta notícia

Um estudo publicado ontem no periódico científico The Lancet e apresentado no Congresso da European Society of Cardiology mostrou que o câncer é a principal causa de morte nos países ricos, ultrapassando as doenças cardiovasculares – que são a principal causa de mortalidade entre os adultos em todo o mundo.

Esse resultado é um alerta porque, se as tendências atuais persistirem, dentro de poucas décadas, o câncer poderá se tornar a maior causa de mortes em todo o planeta, especialmente se considerarmos que as taxas de doenças cardíacas estão diminuindo em escala global.

E quem afirma isso são os próprios pesquisadores. Segundo os autores do estudo, que são da Universidade Laval de Quebec, no Canadá, essas são evidências de uma nova “transição epidemiológica” global entre diferentes tipos de doenças crônicas.

Dentro dessa realidade, acho importante ponderar três pontos:

  • A expectativa de vida da população tem aumentado muito na maior parte do mundo, especialmente nos países desenvolvidos. Em 1950, por exemplo, a expectativa de vida média global ao nascer era de apenas 46 anos. Em 2015, cresceu para mais de 71. E sabemos que, infelizmente, o risco de desenvolver doenças como o câncer, aumenta com a longevidade.

O fato de o organismo estar permanentemente dividindo suas próprias células já é um fator de risco para o idoso. Isso porque, durante esse processo, é comum que ocorram alterações no material genético que, em condições normais, são corrigidas e eliminadas pelo sistema imunológico. No entanto, nos idosos, isso nem sempre ocorre de forma ideal, o que contribui para o crescimento excessivo e desordenado das células, quadro que leva ao aparecimento do câncer.

Portanto, com o aumento da idade da população, aumenta também o número de diagnósticos dessa doença. E isso nos leva para o segundo ponto.

  • Os diagnósticos estão cada vez melhores, mais precisos e acessíveis e, com isso, as pessoas estão fazendo mais os exames de rotina como a mamografia, o exame de toque retal e a colonoscopia, por exemplo. Até certo tempo atrás, muitas pessoas faleciam antes de descobrirem a causa. Hoje, com o aumento da procura e da realização de exames de diagnóstico, o número de casos registrados também aumenta, consequentemente.
  • O terceiro ponto que eu gostaria de destacar é sobre a queda do número de mortes relacionadas a fatores de risco como obesidade, tabagismo, falta de atividade física. Nos países ricos, as populações estão cada vez mais conscientes da necessidade de melhorar esses hábitos e eles estão totalmente relacionados à doenças cardiovasculares. Essa, portanto, é uma explicação para sua queda. 

De acordo com a pesquisa, habitantes de países pobres têm 2,5 vezes mais possibilidades de morrer vítimas de doenças do coração do que os moradores das nações mais ricas.

Esse fato mostra e prova como é importante insistirmos na conscientização da população sobre a importância de se manter um estilo de vida saudável. As descobertas sugerem que taxas mais altas de óbitos por doenças cardíacas em países de baixa renda podem ser principalmente devido a uma menor qualidade dos cuidados de saúde.

Lembrando que os problemas cardiovasculares estão muito relacionados a fatores como obesidade, colesterol elevado, diabetes… Tudo o que a combinação má alimentação + sedentarismo pode causar (além do tabagismo, claro).

Toda essa questão tem sido mais trabalhada em certas nações. Com políticas públicas de promoção à saúde e uma população bem orientada e educada, a incidência de casos tendem a sofrer um certo impacto.

Algumas medidas que fazem muita diferença é a cobrança de impostos especiais sobre consumo de tabaco e álcool, legislações que impeçam o fumo em ambientes fechados de trabalho e locais públicos, campanhas para reduzir os níveis de sal e gorduras trans nas comidas e programas de conscientização pública sobre como melhorar a dieta e aumentar a atividade física.

Dia Mundial sem Tabaco: Cinco métodos que vão te ajudar a parar de fumar

Se você é fumante, fique tranquilo. Esse post é 100% livre de sermões e julgamentos. Em quase duas décadas de medicina, afinal, pude observar que juízos de valor e abordagens moralizantes ajudaram um total de… zero pessoas. 

A intenção deste texto tampouco é fazer terrorismo. Sim, o cigarro mata, como bem sabemos eu, você e o mundo todo desde os anos 1950, quando estudos consistentes começaram a  comprovar e a alertar para a potencial letalidade do tabagismo. 

Fato é que temos um problema concreto de saúde pública a resolver: segundo dados da OMS, 20% da população mundial fuma, ou seja,1,1 bilhão de indivíduos. O hábito é mais frequente entre homens. Publicada no renomado periódico The Lancet em abril de 2017, uma outra pesquisa – esta, conduzida pela Bill & Melinda Gates Foundation em 195 países de 1990 a 2015 -, constatou que uma em cada quatro pessoas do sexo masculino faz uso de cigarro. Entre as mulheres, o índice é de uma para cada 20.

O mesmo levantamento situou o Brasil nesse contexto. Ocupamos a oitava posição em números absolutos fumantes – 7,1 milhões de mulheres e 11,1 milhões de homens). A boa notícia é que tivemos uma das mais significativas quedas do tabagismo durante o período analisado. Em 25 anos, o país viu a porcentagem de fumantes diários despencar de 29% para 12% entre homens, e de 19% para 8% entre mulheres.

A investigação verificou ainda que o tabaco é responsável por uma em cada dez mortes no planeta, causadas sobretudo por problemas cardiovasculares, acidentes vasculares cerebrais e câncer (incluindo o de próstata). 

Minha maior preocupação, portanto, é em contribuir de forma efetiva para a longevidade e a qualidade de vida de quem ainda fuma.  Por isso trouxe aqui alguns métodos que podem auxiliar nessa difícil empreitada – todos retirados do Manual Pare de Fumar, publicado pelo Ministério da Saúde. Vale a pena tentar! Não desista, ainda que você já tenha feito várias tentativas. O caminho rumo a libertação do cigarro é tortuoso, mas acredite: a vitória é realmente gratificante.

Alternativas para largar o cigarro

O emplastro de nicotina

Tem como objetivo não a substituição do vício pela nicotina, mas tornar os períodos de abstinência mais longos e toleráveis. Age liberando pequenas quantidades de nicotina, o que é de certa forma útil, contrastando com os picos e depressões associadas a outros tipos de medicações, que podem levar a exacerbações dos sintomas de abstinência.

É utilizado diariamente por 3 meses. Costuma ter bons resultados, e normalmente aqueles que falham são os que suspenderam precocemente. Não se trata de uma cura mágica para o vício. Requer força de vontade, e, combinado com esta, é uma ajuda valiosa. Um em cada cinco usuários dedicados consegue se livrar do vício apenas com o emplastro.

Bupropiona

Comercializado com o nome de Zyban, é na verdade um anti-depressivo. É medicação controlada, ou seja, só se consegue comprar com receita apropriada.

Apesar de não ter sido criada para combater o tabagismo, ajuda a controlar os sintomas da abstinência. Possui alguns efeitos colaterais como boca seca e dificuldade para dormir. Tem a vantagem de não conter nicotina, portanto, não vicia.

Chiclete de nicotina

De forma semelhante ao emplastro, o usuário faz uso do chiclete quando sente vontade de fumar, ajudando a reduzir os sintomas de abstinência. Apresenta a vantagem de uma quantidade razoável de chicletes poder ser mascada diariamente (até 24), quando der vontade, mantendo a mente e a boca ocupadas.É tão efetivo quanto o emplastro, e também utilizado por 3 meses. Novamente, é necessária muita força de vontade.

Inalador de nicotina

Trata-se de uma espécie de “cigarro que não precisa ser aceso”, com doses leves de nicotina, e mentol associado. Associa a dosagem controlada de nicotina, à satisfação momentânea do vício (assim como o chiclete), e adicionalmente, há o efeito psicológico em satisfazer o desejo de levar um “cigarro” à boca.  Os resultados são semelhantes aos outros métodos que utilizam doses de nicotina.

Parada abrupta

Algumas pessoas preferem não usar qualquer tipo de terapia ou medicamento para cessar o vício e, assim, optam pela parada imediata. O método consiste em marcar uma data para largar cigarro. A partir desse dia, a pessoa então interrompe o hábito nocivo. Minha sugestão é que os adeptos dessa estratégia procurem acompanhamento psicológico, tratamento que reduz sensivelmente as chances de reincidência no vício. 

Mais uma novidade no horizonte da cirurgia robótica

É impressionante como a cada dia nós nos deparamos com uma novidade diferente no mercado da cirurgia robótica. E como eu estou sempre pesquisando sobre o tema, fico fascinado com as possibilidades que estão no horizonte.

Uma delas é uma nova plataforma que está sendo desenvolvida pela empresa irlandesa Medtronic. A companhia vem trabalhando em um dispositivo que incorpora vários elementos do MiroSure, sistema que surgiu da pesquisa sobre telecirurgia e foi desenvolvido pela ala Robótica e Mecatrônica do Centro Aeroespacial Alemão (DLR).

O sistema MiroSure tem até cinco braços minimamente invasivos assistidos por robô que, ao contrário das demais plataformas, podem ser acoplados aos trilhos da mesa cirúrgica, permitindo reposicionamentos sem desencaixe do robô ou interrupção da cirurgia. 

Cada braço pesa 10 kg, proporciona sete graus de liberdade de movimento e utiliza uma variedade de instrumentos laparoscópicos. O sistema também contém um monitor 3D-HD com óculos 3D e o mecanismo de controle fornece feedback tátil.

Além disso, há outros recursos verdadeiramente exclusivos. Primeiro, os braços contêm um modo controlado por impedância, pelo qual o assistente consegue reposicionar os braços robóticos sem alterar a posição e orientação do efeito final, o que permite que a cirurgia continue ininterrupta. 

Segundo, inclui o AutoPointer, que projeta uma imagem no paciente para guiar o posicionamento ideal da porta para uma cinemática eficiente e sem colisões.

Com tudo isso, seria possível operar um coração batendo, com compensação de movimento e coordenação automática de efetores em sincronia com a sístole / diástole, fornecendo ao cirurgião uma imagem estática do órgão. Esse recurso permanece no estágio inicial da pesquisa, mas demonstra uma interessante aplicação futura do MiroSure.

A licença para uso comercial do MiroSure foi vendida para a Medtronic em 2013. Atualmente, a empresa está desenvolvendo seu décimo protótipo e o sistema robótico deve ser lançado nos próximos dois anos, primeiro na Índia e depois nos Estados Unidos.

Prepare-se para o novo “boom” da cirurgia robótica

Há 20 anos, o sistema da Vinci®, da Intuitive Surgical, detém o monopólio mundial da cirurgia robótica minimamente invasiva. O patenteamento restritivo, uma estratégia de marketing bem desenvolvida e um produto de alta qualidade garantiram a liderança de mercado da empresa.

Sob o sistema de patentes dos Estados Unidos, cada registro concede ao seu titular o direito de excluir a concorrência para a invenção coberta por um período limitado de tempo, geralmente de 20 anos. Sendo assim, as patentes da Intuitive Surgical serviram como barreiras para a entrada de possíveis concorrentes no mercado de cirurgia robótica.

Para se ter uma ideia, uma pesquisa de 2016 no banco de dados do Escritório de Marcas e Patentes dos EUA (USPTO) indicou que a Intuitive Surgical tinha, àquela época, 649 patentes no país ou pedidos de patentes publicados. No entanto, esse número não abrange patentes que a empresa possa ter direitos, por meio de licenças, nem pedidos de registros que ainda não estavam disponíveis publicamente. Ou seja: o número de patentes que a companhia pode ter cobrindo a sua tecnologia é ainda maior que esse. 

No entanto, as coisas já começaram a mudar (e vão mudar ainda mais): devido às nuances da lei de patentes norte-americana, muitas das primeiras patentes da Intuitive Surgical irão expirar nos próximos anos, abrindo caminho para que os concorrentes também desenvolvam seus programas robóticos. Alguns deles já estão, inclusive, disponíveis para uso clínico.

Aliás, várias das primeiras registradas já expiraram em 2016, quando o prazo de vigência chegou ao fim. Essas patentes cobriam alguns dos conceitos robóticos básicos implementados nos produtos da empresa, incluindo o controle de ferramentas e braços com um controle remoto e a funcionalidade de geração de imagens fornecida pelo robô cirúrgico.

Muitas outras expirarão até 2022, quando devemos passar por um novo “boom” da cirurgia robótica com a chegada de novas plataformas ainda mais avançadas e, espera-se, mais acessíveis.

No entanto, isso não significa que a Intuitive deixará os seus produtos sem cobertura. Com o contínuo desenvolvimento do sistema da Vinci ao longo desses anos, muitas patentes mais recentes levarão bastante tempo até serem expiradas. Afinal, a empresa continua a registrar novos pedidos para as suas tecnologias mais atuais.

Mas isso não muda o fato de que as patentes originais da companhia continuam a expirar, permitindo que mais e mais players entrem no mercado atraídos por enormes receitas potenciais e pela diminuição das barreiras impostas pela Intuitive Surgical. Com isso, todos nós temos a ganhar. Que o futuro seja cada vez mais democrático e acessível!

5 tecnologias que estão revolucionando a cirurgia: Robô cirúrgico do Google

O Google também está entrando com tudo no campo da cirurgia robótica. A partir de uma colaboração entre a Ethicon Endo-Surgery (uma divisão da Johnson & Johnson) e a Verily (antiga Google Life sciences), foi fundada em 2015 a Verb Surgical, uma empresa que usará tecnologia robótica para ser pioneira no que eles chamam de “Cirurgia 4.0”, que transcende o paradigma atual de cirurgia mestre-escrava e incorpora o aumento da autonomia robótica e aprendizado de máquina.

Para isso, a plataforma da Verb consiste em cinco pilares de tecnologia: robótica, visualização, instrumentação avançada, conectividade e análise de dados. Quando lançada, essa será a primeira plataforma de cirurgia digital totalmente conectada do mundo.

Fora isso, ainda se sabe pouco sobre a novidade, já que o sistema está envolto em sigilo corporativo. O que se pode adiantar é que a companhia está trabalhando ativamente com empresas parceiras e com médicos para testar a plataforma em laboratórios pré-clínicos.

Apesar de todo o mistério, nós já temos algumas pistas: a Verb Surgical está licenciando a tecnologia robótica da Stanford Research International Robotics (SRI), que iniciou o desenvolvimento do sistema cirúrgico telerobótico M7 em 1998.

As principais características deste sistema incluem 2 braços robóticos com 7 graus de liberdade, um sistema leve pesando 15 kg, feedback visual, auditivo e tátil ao cirurgião e compensação para movimentos externos.

Este sistema foi desenvolvido principalmente para telecirurgia de longa distância (particularmente no campo de batalha) e testes foram conduzidos tanto a 60 pés debaixo d’água quanto a bordo da aeronave NASA C-9, simulando cirurgia em gravidade zero.

O Big Data e o aprendizado de máquina baseados no Google também terão, naturalmente, um papel importante para ajudar os cirurgiões a tomar decisões melhores e mais completas no meio de uma operação.

Além disso, já se sabe que o robô de Verb terá cerca de 20% do tamanho das plataformas atuais, permitindo que o cirurgião trabalhe mais próximo do paciente. Por isso, a aposta do mercado é que o sistema seja consideravelmente mais barato que os atuais, podendo custar cerca de 2 milhões de dólares ou mais.

Diante todas essas pistas e dado o considerável apoio financeiro e expertise das empresas envolvidas, o potencial da Verb Surgical é, no mínimo, muito estimulante.

5 tecnologias que estão revolucionando a cirurgia: Sistema Senhance

O da Vinci continua sendo o robô cirurgião mais conhecido e utilizado mundialmente. Mas ele não é o único: nos últimos anos, muitas empresas desenvolveram sistemas com recursos de alta tecnologia que tornam a cirurgia robótica cada vez mais avançada e abrangente.

Um deles é o Senhance, que compete no mercado com o com a Intuitive Surgical e sua linha de sistemas da Vinci. Desenvolvido pela empresa norte-americana TransEnterix, a plataforma já sendo utilizada para reparar hérnias, remover vesículas biliares e tratar várias outras condições urológicas e ginecológicas.

Diferenciais

Embora funcione de maneira semelhante ao da Vinci, o Senhance conta com um enorme diferencial: feedback tátil nos controles. O cirurgião consegue “sentir”, nas pontas dos próprios dedos e em tempo real, quando o robô entra em contato com estruturas anatômicas.

Além disso, os controles do instrumento são mais ergonômicos e se assemelham bastante aos instrumentos cirúrgicos tradicionais, o que pode ajudar bastante na transferência de habilidades do cirurgião da cirurgia convencional para o sistema robótico.

Outro importante avanço proporcionado pelo Senhance é o óculos laparoscópico em 3D-HD, que além de permitir que o médico veja o interior do corpo em alta definição, conta com um sistema de rastreamento ocular para controle de câmera. Pela primeira vez em uma plataforma cirúrgica robótica, o cirurgião consegue mover a câmera laparoscópica simplesmente movendo os próprios olhos. 

A dinâmica da cirurgia é a mesma: pequenos instrumentos cirúrgicos são inseridos através de mínimos orifícios e os cirurgiões controlam o robô a partir de uma estação de trabalho. O equipamento conta com três braços robóticos laparoscópicos em carrinhos separados (em oposição ao carrinho único do da Vinci) e alças laparoscópicas com seis graus de liberdade para controlar os instrumentos.

Aprovações

Na Europa, o sistema é licenciado para uso em procedimentos abdominais, pélvicos e torácicos, excluindo cirurgia cardíaca. Nos Estados Unidos, o Senhance recebeu aprovação da FDA em outubro de 2017, tornando-se o primeiro novo operador de robótica cirúrgica abdominal no país desde 2000. 

Recentemente, o Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do Japão concedeu aprovação ao robô para laparoscopia em cirurgia geral, ginecológica, urológica e alguns procedimentos torácicos, o que é um marco importante já que o país é o segundo maior mercado de robótica cirúrgica do mundo, perdendo apenas para os estadunidenses.

5 tecnologias que estão revolucionando a cirurgia: Bisturis inteligentes

Embora ultra-afiados e eficazes, bisturis e facas cirúrgicas nunca passaram de instrumentos para a realização de cirurgias. Até agora!  Os chamados bisturis inteligentes, já disponíveis no mercado, podem analisar, com rapidez e precisão, a composição do tecido que toca para determinar se ele é saudável ou não.

E saber fazer isso é vital, especialmente na cirurgia do câncer, onde o objetivo da operação é remover o tumor deixando os tecidos saudáveis preservados.

O iKnife por exemplo é uma faca eletrocirúrgica, desenvolvida pela Imperial College London, que é conectada a um dispositivo chamado espectrômetro de massa. Conforme a lâmina eletrificada corta o tecido, a fumaça é liberada e canalizada para esse espectrômetro, que analisa os produtos químicos contidos nela para determinar se ele é ou não maligno. 

Outro exemplo do que já está desenvolvido é o bisturi que informa o cirurgião, em menos de meio segundo, o tipo de tecido a ser tocado, com notificações visuais ou auditivas. 

Embora não corte, essa ferramenta portátil, criada por uma parceria entre a Universidade Técnica de Monterrey, Universidade de Hanover e Universidade Livre de Bruxelas, consegue medir as correntes elétricas microscópicas que a ponta do bisturi gera quando entra em contato com vários tipos de tecido, um fenômeno conhecido como efeito piezoelétrico.

Este novo bisturi possui sensores e algoritmos avançados de processamento digital de sinais. Quando se trata de detectar tecidos saudáveis ​​e aqueles afetados pelo tumor, o bisturi vibra 400 milissegundos no cérebro a 4.000 frequências diferentes. Isto gera uma imagem de como o cérebro está vibrando e essas freqüências são analisadas para obter um modelo matemático das propriedades do que está sendo tocado.

Segundo os cientistas, o bisturi é tão preciso que pode ajudar até mesmo a detectar tumores precocemente, quando a diferença entre tecido saudável e afetado é quase imperceptível ao sentido da visão e ao toque dos cirurgiões.

Além disso, o dispositivo poderia ser usado para remover tumores em outras partes do corpo (atualmente, ele está sendo estudado no cérebro), seja na forma de um bisturi ou de um endoscópio inteligente para cirurgias de estômago ou intestino, por exemplo. Por agora, a ferramenta está em processo de patente e com autorização pendente para iniciar testes em humanos.

5 tecnologias que estão revolucionando a cirurgia: Imagiologia optoacústica

Os raios X já foram o padrão ouro para a visualização não invasiva do interior de um paciente. Embora ainda sejam populares, outras modalidades de imagem, como ultrassom, ressonância magnética e tomografia computadorizada nos permitem ver características anatômicas que ficam ocultas nesse exame.

Essas modalidades revolucionaram a medicina: a TC dá dimensão às radiografias planas para ajudar a diagnosticar lesões traumáticas e monitorar o progresso de algumas formas de câncer, e a RM é comumente usada para lesões relacionadas ao movimento, podendo mostrar até partes ativas do cérebro.

Especialmente na oncologia, elas podem revelar muito sobre a estrutura de um tumor em potencial. No entanto, os tumores podem ser enganosos, muitas vezes se assemelhando muito ao tecido saudável em torno dele. 

Mas há uma característica que diferencia os tecidos saudáveis ​​de impostores cancerígenos: o conteúdo de oxigênio presente no tecido. E é aí que entra a imagiologia optoacústica. Esse método permite direcionar rajadas de luz laser em um tumor em potencial. Cada explosão aquece e expande o tecido levemente, fazendo com que uma pequena onda mecânica se propague através do tecido circundante.

Essas ondas podem ser detectadas e convertidas em imagens de alta resolução com reflexos verdes ou vermelhos, indicando a concentração de oxigênio para ajudar o oncologista a determinar o que é canceroso.

Embora todas essas modalidades de imagem tenham limites sobre o que podem escanear com precisão, elas podem ser combinadas ou complementadas com outros tipos de exames clínicos para preencher lacunas, abrindo um novo campo de aplicações clínicas.

Tomemos por exemplo o Seno Medical, baseado no Texas: eles estão desenvolvendo uma técnica que combina a tecnologia de imagem optoacústica com imagens de ultrassom convencionais. A imagem resultante de alta resolução será capaz de mostrar a localização, forma e conteúdo de oxigênio dos tumores de câncer de mama para ajudar a fornecer um diagnóstico mais claro e um plano de tratamento mais eficaz.

E tem mais: os avanços nos gráficos gerados por computador, holografia e realidade aumentada já permitem que os médicos visualizem, manipulem e até percorram, virtualmente, varreduras tridimensionais de uma parte do corpo.

Exemplo: uma empresa chamada EchoPixel, com sede na Califórnia, usa os exames de ressonância magnética, tomografia computadorizada ou ultrassonografia para gerar uma imagem holográfica em 3D. O holograma resultante pode ser visto em um monitor especial com um par de óculos 3D e manipulado com uma caneta para familiarizar o cirurgião, com toda a riqueza de detalhes, à anatomia de cada paciente, permitindo um melhor planejamento cirúrgico.

Mais um: várias empresas estão deixando de lado o monitor ao integrar imagens 3D no popular headset HoloLens da Microsoft. Lembram quando eu disse da realidade aumentada aqui? Na sala de cirurgia, o HoloLens está sendo testado em muitas funções, desde a exibição dos sinais vitais de um paciente até a identificação de sangue e ossos embaixo da pele. 

5 tecnologias que estão revolucionando a cirurgia: Treinamento de cirurgiões com Realidade Virtual

Você já pensou em como os futuros médicos cirurgiões poderiam treinar suas técnicas de forma totalmente segura, ainda que algum erro seja cometido durante a cirurgia?


O mercado tecnológico sim, e a solução para isso é a realidade virtual (Virtual Reality – VR, em inglês). Uma tecnologia utilizada nos videogames e que agora permite, tanto a residentes quanto a cirurgiões mais experientes, o desenvolvimento de suas habilidades em ambientes que se aproximam muito dos reais. 


Como funciona

A aparelhagem (geralmente composta por um notebook, óculos de realidade virtual e controles ou luvas) permite que o médico simule uma cirurgia, desde a entrada no centro cirúrgico, passando pela execução da intervenção, até o momento de finalização do procedimento, que é previamente selecionado para o teste. Algumas plataformas oferecem, inclusive, a simulação de eventuais complicações.

Para isso, os simuladores utilizam aspectos chave como o realismo visual, realismo fisiológico e estímulo háptico (sensação do tato). Ao iniciar o treinamento, o médico tem a oportunidade de experimentar a sensação de pegar os instrumentos, encaixar e desencaixar peças acessórias e realizar a cirurgia em um paciente virtual, que tem suas funções vitais monitoradas por aparelhos como se estivesse em um centro cirúrgico real.

Feedback

Como ferramenta de aprendizagem, os sistemas contam com uma avaliação crítica e um feedback de tudo o que é feito nos testes. Geralmente, os programas classificam o desempenho de cada um com base no tempo, na precisão e em outras métricas nas quais os cirurgiões são comumente avaliados. Assim, o profissional pode aprimorar ainda mais suas habilidades, diminuindo o tempo de uma cirurgia e facilitando o pós-operatório dos pacientes.

Uma inovação necessária

Várias empresas já disponibilizam a tecnologia para diferentes especialidades, e ela já está em uso aqui no Brasil em estados como São Paulo e Pernambuco. A expectativa dos especialistas é que, em até 10 anos, haja uma implementação efetiva da inteligência artificial e da realidade virtual no campo da medicina não só aqui, mas em todo o mundo.

E isso é muito necessário: estudos internacionais apresentados pelo Johnson & Johson Institute mostraram que há cinco bilhões de pessoas no mundo sem acesso a cuidados cirúrgicos. Os relatórios revelaram ainda que médicos cirurgiões não qualificados geram três vezes mais complicações e cinco vezes mais mortalidade nas cirurgias frente a cirurgiões qualificados.

Sem dúvidas, o futuro caminha para o uso do máximo apoio da tecnologia na área médica, principalmente na cirúrgica. Entretanto, nunca é demais lembrar que isso não significa a substituição do contato interpessoal entre nós e o paciente. O papel do médico é, e sempre será, fundamental em qualquer tipo de tratamento.

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