Autor: Dr. Pedro Romanelli Page 17 of 27

Pedro Romanelli é urologista com ênfase em cirurgia robótica. Acredita na possibilidade de associar avanços tecnológicos a um tratamento humanizado. Sempre quis ter uma profissão que permitisse cuidar das pessoas e mudar suas vidas.

Robô Hugo, da Medtronic, é utilizado pela primeira vez, numa prostatectomia radical

Robô Hugo, da Medtronic, é utilizado pela primeira vez, numa prostatectomia radical

A Medtronic, empresa líder global em tecnologia médica, anunciou na semana passada que o primeiro procedimento realizado com seu novo robô cirurgião, o Hugo, foi realizado com sucesso no Chile. O procedimento foi realizado pelo Dr. Ruben Olivares, na Clínica Santa Maria, em Santiago.

Trata-se de uma prostatectomia radical, ou seja, a remoção total da próstata do paciente, uma das principais cirurgias em que se destacam as técnicas minimamente invasivas, especialmente a robótica

A plataforma robótica Hugo RAS vinha sendo desenvolvida há alguns anos e, finalmente, iniciou seu registro de pacientes para coletar dados clínicos que, futuramente, serão utilizados para ser submetida a regulações em diversos países. 

Hugo RAS promete menores custos e mais praticidade para cirurgiões e hospitais 

Atualmente, somente uma pequena parcela das cirurgias realizadas no mundo inteiro são realizadas com robôs. Nesse sentido, de acordo com os responsáveis pelo Hugo, essa plataforma tem o potencial de oferecer soluções versáteis, compatíveis e portáteis com custo efetivo

A ideia é diminuir os custos da cirurgia robótica e otimizar a logística de utilização dessa tecnologia com modularidade nos braços robóticos, visualização avançada e compatibilidade com instrumentos da Medtronic já utilizados em cirurgias laparoscópicas e abertas. 

Com esses recursos, a empresa busca solucionar, também, um dilema comum quando falamos de tecnologia: à medida que surgem novos avanços, as tecnologias vão se tornando obsoletas. 

O objetivo é que o Hugo possa ser atualizado sem se tornar obsoleto, possibilitando troca de peças e geradores ao invés de comprar um sistema novo, o que reduz custos tanto para o hospital quanto para o paciente. 

Os cirurgiões podem, inclusive, utilizar muitos dos instrumentos com os quais já estão familiarizados, o que aproveita a experiência que o médico já tem e ainda mantém o catálogo de instrumentos da Medtronic ativo. Diversos equipamentos do robô também podem ser utilizados em cirurgias laparoscópicas e até mesmo abertas, inclusive o seu gerador.

Além disso, o Hugo pode ser facilmente transportado entre salas de cirurgia, maximizando sua utilização por diferentes espaços do hospital ao invés de ficar restrito a um local específico. Ele também pode ser desmontado para ser utilizado em duas operações diferentes ao mesmo tempo. 

Outro aspecto interessante do robô é que ele oferece alguns insights importantes do procedimento, possibilitando que o médico possa acessar, analisar e compartilhar vídeos de procedimentos que são gravados e transmitidos para a nuvem diretamente da sala de cirurgia.  

E, por fim, a Medtronic oferece treinamento e serviços personalizados para que cada médico possa explorar ao máximo as vantagens da sua plataforma robótica. Para isso, ela utiliza simulações e laboratórios práticos.

Corrida robótica se intensifica com avanços do Hugo 

Este é, sem dúvidas, um grande passo para a Medtronic, que já se destaca com a Mazor X Stealth, plataforma cirúrgica dedicada às cirurgias da coluna vertebral. Entretanto, ainda é muito cedo para dizer se o Hugo será um competidor agressivo no mercado em relação à Intuitive Surgical, empresa responsável pelos sistemas cirúrgicos da Vinci, mais utilizados em todo o mundo. 

A Medtronic não é a única a se debruçar sobre os problemas que ainda encontramos na cirurgia robótica, como o volume e o custo das plataformas. A própria Intuitive Surgical tem encontrado caminhos interessantes para tornar seus sistemas mais acessíveis e práticos, enquanto a Virtual Incision caminha a passos largos com o MIRA, o menor e mais leve robô cirúrgico até o momento. 

Continuo na torcida para que essas tecnologias continuem avançando para que os melhores tratamentos estejam disponíveis para o maior número possível de pacientes, que tanto se beneficiam de técnicas minimamente invasivas e de alta precisão. Assim que tivermos mais notícias sobre o Hugo e outras plataformas, contarei aqui no blog! 

Novo consenso para o manejo do câncer de próstata para países em desenvolvimento

Novo consenso para o manejo do câncer de próstata para países em desenvolvimento

Com o objetivo de oferecer as melhores estratégias de prevenção e tratamento do câncer de próstata na América Latina, África e Oriente Médio, dezenas de médicos se reuniram para produzir o I Consenso Mundial sobre Rastreamento, Diagnóstico e Tratamento Câncer de Próstata para Países em Desenvolvimento. 

 

A publicação é composta por uma série de artigos que reúne informações valiosas a respeito do rastreamento, diagnóstico, ferramentas de estadiamento, tratamento e acompanhamento de diferentes estágios do câncer de próstata, mesmo em áreas com recursos limitados. 

Ela foi desenvolvida por urologistas, cirurgiões, radiologistas, oncologistas, patologistas e radioterapeutas de diversos países e está disponível no Journal of Global Oncology

As principais orientações do novo consenso para o manejo do câncer de próstata 

A principal orientação a respeito do manejo do câncer de próstata em países em desenvolvimento é tornar o rastreamento da doença obrigatório aos 50 anos de idade. Ou seja, os homens devem passar pelo exame de PSA e o toque retal assim que completarem essa idade. 

Outra recomendação é a implantação de um fluxo mais eficiente no sistema, para que o paciente receba o tratamento após o diagnóstico sem atrasos, um problema muito real no Sistema Único de Saúde aqui no Brasil. 

Em relação a novas tecnologias e protocolos de tratamento, os especialistas participantes propuseram projetos que tornem acessíveis medicamentos com melhores índices de cura e sobrevivência.

Ao todo, sete artigos discutem questões muito importantes a respeito do câncer de próstata, avaliam o painel de votação e levantam discussões literárias sobre o assunto. No primeiro, o rastreamento, diagnóstico e ferramentas de estadiamento são o destaque, bem como os benefícios das práticas para a detecção precoce da doença e as limitações encontradas em países em desenvolvimento.

No segundo e terceiro artigos encontramos orientações a respeito do tratamento do câncer de próstata localizado de baixo, médio e alto risco, inclusive a vigilância ativa. No quarto texto, o tema é a recorrência bioquímica no câncer de próstata sensível à castração, enquanto no quinto artigo os autores discutem a resistência à castração não metastática.

Por fim, no sexto artigo o assunto é a metástase do câncer de próstata sensível à castração, e, no sétimo, os autores debatem o câncer de próstata metastático resistente à castração, um dos maiores desafios da urologia, especialmente nos países em desenvolvimento. 

A realidade do câncer de próstata no Brasil

Sempre falo por aqui que as chances de cura do câncer de próstata são altas quando o tumor é diagnosticado precocemente e que já contamos com tratamentos muito avançados.

Infelizmente, nem todas as pessoas têm acesso a essas informações ou a recursos como a 

cirurgia robótica, por exemplo, fazendo da divulgação científica uma ferramenta essencial para mudar um cenário preocupante:

No Brasil, o câncer de próstata ainda é o segundo tipo de tumor mais comum entre os homens. Somente em 2019, tivemos quase 16 mil mortes em decorrência da doença, e já temos estudos que mostram que a nossa população tem diagnóstico tardio e tratamentos mais limitados na rede pública. 

De acordo com dados do Global Cancer Observatory, a estimativa é de que os números do câncer de próstata no país e na América Latina cresçam consideravelmente até 2040, chegando a dobrar a quantidade de casos e registrar aumento exponencial na quantidade de mortes. 

Espero que a divulgação do Consenso seja capaz de frear esse aumento e melhorar o atendimento oferecido à grande parte da população.

O que as mulheres precisam saber sobre o câncer de bexiga

O que as mulheres precisam saber sobre o câncer de bexiga

O câncer de bexiga é mais comum entre homens do que entre as mulheres. Porém, a taxa de sobrevivência, entre elas, é menor. De acordo com um relatório publicado pelo Instituto Nacional do Câncer, provavelmente, isso se deve ao fato de que elas estão recebendo o diagnóstico mais tarde. 

Provavelmente, isso se deve ao fato de que elas estão recebendo o diagnóstico mais tarde. Por um lado, as pacientes demoram a reportar ao médico a presença de sangue na urina, principal sintoma da doença e que costuma ser interpretado como sangue menstrual, sangramento pós-menopausa ou mesmo como sintoma de uma infecção urinária comum. 

Por outro, os médicos não tendem a suspeitar inicialmente do câncer de bexiga, já que esse tipo de tumor não está sequer entre as dez neoplasias mais comuns entre as mulheres. Na maioria dos casos, a mulher pode sair do consultório médico com uma receita para antibióticos. 

Como esse sangramento não é acompanhado de dor e os episódios podem demorar semanas e até meses para ocorrer de novo, médico e paciente pensam que o medicamento funcionou, quando na realidade o tumor só ganhou mais tempo para se desenvolver e se espalhar. 

Entretanto, vale ressaltar que a mulher pode ter câncer de bexiga e uma infecção urinária ao mesmo tempo. Se o sangramento persistir depois do tratamento com antibióticos, não deixe de procurar o médico e procure um urologista. 

Fatores de risco para o câncer de bexiga em mulheres

Assim como nos homens, o principal fator de risco para o desenvolvimento do câncer de bexiga é o tabagismo. Fumantes têm até três vezes mais chances de ter a doença do que não fumantes e aproximadamente 50% de todos os casos de paciente com câncer de bexiga estão relacionados ao cigarro.

Outro fator de risco importante é a exposição a determinados tipos de substâncias no trabalho. Para esse tipo de tumor, produtos químicos utilizados na indústria têxtil, couro, tintas e produtos de borracha e gráficas podem ser perigosos.

Fatores genéticos e histórico familiar também têm um papel importante no desenvolvimento do câncer de bexiga. Pessoas com mutações nos genes NAT e GST ou pessoas com parentes próximos que já tiveram a doença estão mais propensas a desenvolvê-la.

Como você pode ver, nem todos os fatores de risco estão sob controle da paciente, motivo pelo qual deve-se evitar acumular mais de um deles

Sintomas da doença 

O principal sintoma do câncer de bexiga em mulheres é o sangue na urina, que pode aparecer em pequena quantidade ou chegar a mudar a cor do líquido para rosa, laranja ou vermelho.

Inclusive, nem sempre o sangue presente na urina é visível a olho nu. A paciente pode achar que o sangramento desapareceu, mas ele só se tornou sutil o suficiente para não ser notado por ela no vaso sanitário, e somente um exame laboratorial poderá determinar se há ou não a presença de sangue na urina. 

Outros sinais precoces do câncer de bexiga são a necessidade de urinar com mais frequência do que o normal, dor ou queimação ao urinar, vontade de ir ao banheiro mesmo depois de já ter ido ou dificuldades para urinar. Esses sintomas, naturalmente, não são exclusivos desse tipo de câncer e podem ser indicativos de infecções na bexiga ou trato urinário. 

Depois que a doença já está avançada e se espalhou para outras partes do corpo, a mulher pode não conseguir urinar, perder o apetite, sentir dor na lombar ou nos ossos, cansaço excessivo e ter perda de peso não explicada. 

Tratamento cirúrgico do câncer de bexiga em mulheres 

Principalmente quando o tumor não está mais em estágios muito iniciais, a cirurgia é uma parte importante do tratamento da doença. Nesse procedimento, removemos a bexiga e, dependendo do caso, construiremos uma neobexiga. Também é possível fazer uma derivação urinária, em que a urina será drenada por meio de uma saída pelo abdômen da paciente.  

Nesse sentido, uma das principais diferenças entre a cistectomia radical para homens e mulheres é que, quando as chances do câncer ter se espalhado são altas, também é necessário remover os ovários e parte da vagina. Isso pode trazer, inclusive, implicações em relação à fertilidade da mulher. 

Tanto nos homens quanto nas mulheres, a cirurgia robótica tem sido uma excelente alternativa para passar por esse procedimento de maneira minimamente invasiva, o que significa mais precisão durante a cirurgia e recuperação mais rápida para o paciente

Espero que o post de hoje tenha trazido informações importantes a respeito do câncer de bexiga em mulheres. Se você suspeita que pode ter a doença, busque ajuda médica, e se você está procurando tratamento cirúrgico, entre em contato com a minha equipe. Estou preparado para te ajudar a enfrentar o câncer. 

Startup cria teste rápido e indolor para detectar câncer de bexiga

Startup cria teste rápido e indolor para detectar câncer de bexiga

Para diagnosticar o câncer de bexiga, geralmente realizamos um exame chamado cistoscopia, em que inserimos um instrumento fino e flexível pela uretra do paciente. O cistoscópio é equipado com uma microcâmera. Então, o exame possibilita enxergar toda essa estrutura até chegar na bexiga. 

 

Apesar de ser considerado efetivo, esse método tem custo elevado e causa muito desconforto ao paciente, motivo pelo qual é solicitado por último, para confirmar a suspeita do diagnóstico. Frequentemente, após o tratamento da doença, a pessoa precisa realizar cistoscopias regularmente, o que acaba impondo ainda mais sofrimento a alguém que já enfrentou muitas dificuldades para vencer o câncer. 

 

Para superar esses e outros desafios relacionados ao câncer de bexiga, uma startup de São Carlos (SP) desenvolveu um kit de diagnóstico rápido, simples, não invasivo e de baixo custo capaz de identificar o câncer de bexiga e auxiliar na detecção e acompanhamento da doença. 

 

A iniciativa foi desenvolvida por meio de um projeto apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, no âmbito do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE). 

Como o novo teste para câncer de bexiga funciona 

O teste funciona por meio da coleta da urina normalmente, como qualquer outro exame laboratorial. Depois de ser misturada à outra solução, uma mudança de cor e aspecto da urina indica que o paciente tem câncer de bexiga. 

 

Isso é possível porque o teste conta com anticorpos capazes de identificar assinaturas moleculares (biomarcadores) do câncer de bexiga que acabam saindo na urina.

 

Além disso, os pesquisadores desenvolveram um outro modelo de teste parecido com os testes de gravidez disponíveis na farmácia. A ideia é que ele custe cerca de R$ 20 e possa indicar rapidamente se o paciente tem ou não a doença, mas o protótipo ainda está sendo aprimorado.

 

Vale ressaltar, entretanto, que nenhum dos dois testes desenvolvidos pela startup será capaz de substituir a cistoscopia, mas sim ajudar a identificar o tumor em estágios iniciais e evitar que o paciente passe por um exame caro e desconfortável desnecessariamente. 

 

Afinal, para desenvolver o melhor plano de tratamento, é necessário saber qual o tamanho do tumor, seu estágio e entender melhor a sua morfologia. Além de possibilitar a visualização do crescimento maligno, a cistoscopia possibilita a coleta de material para biópsia. 

 

De acordo com os pesquisadores, um dos objetivos é evitar a retirada desnecessária da bexiga, a cistectomia. Quando o tumor é identificado em estágios muito iniciais, esse tipo de procedimento pode não ser necessário para que o paciente seja curado. 

 

Embora a cirurgia de remoção da bexiga esteja cada vez mais moderna, especialmente com a cirurgia robótica, a preservação do órgão por meio de um diagnóstico precoce é uma excelente notícia para os pacientes! Além disso, poder realizar o acompanhamento de pacientes oncológicos com um teste não invasivo também poderá poupá-los de muito desconforto. 

 

 

 

Câncer de próstata vai cair para o 14º tipo de tumor mais prevalente em 2040

Câncer de próstata vai cair para o 14º tipo de tumor mais prevalente em 2040

Atualmente, o câncer de próstata ainda é o segundo tipo de tumor que mais afeta os homens e o quarto mais comum na população como um todo. Entretanto, um recente estudo publicado no Jama Network parece prever um cenário diferente para os Estados Unidos, em que esse tumor passará a ser o 14º mais comum, em 2040. 

A partir de estimativas de crescimento populacional e a incidência de câncer e de mortes em decorrência da doença na população atual dos EUA, os pesquisadores foram capazes de estabelecer estimativas a respeito de diversos tipos de câncer. 

Por exemplo, o estudo apontou que os tipos de tumor mais prevalentes entre a população norte-americana, em 2040, serão os de mama, melanoma, pulmão e intestino. Em 2020, os tumores mais comuns foram os de mama, pulmão, próstata e intestino. 

Isso significa que a incidência do câncer de próstata terá uma queda muito expressiva nos próximos vinte anos, passando da terceira para a décima quarta posição. 

Essa projeção foi baseada no registro de uma diminuição expressiva no diagnóstico de câncer de próstata de 1999 a 2015, o que pode estar relacionado a recomendações da Força Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos. 

Em 2008, a instituição desencorajou o rastreamento da doença em homens acima de 75 anos, e, em 2012, recomendou que nenhum homem passasse por exames de rastreamento. Felizmente, em 2018, orientou que homens de 55 a 69 anos façam uma decisão pessoal e informada a respeito do rastreamento do câncer de próstata. 

Urologista em BH – Outros tumores urológicos serão prevalentes entre os homens, em 2040

Apesar da boa notícia da diminuição na prevalência do câncer de próstata entre os homens nos próximos vinte anos, outros tumores urológicos se tornarão mais comuns entre eles. O destaque fica para o câncer de rim, que ocupava a sexta posição e agora está entre os cinco tumores mais prevalentes entre os homens:

Melanoma, câncer de pulmão, bexiga, rim e intestino serão os principais tipos de neoplasia que afetarão os homens norte-americanos. Em 2020, os tumores mais comuns entre os indivíduos do sexo masculino foram os de próstata, pulmão, intestino e bexiga

Tumor de próstata continua entre as principais causas de morte relacionadas ao câncer

Entretanto, em 2040, o câncer de próstata vai continuar sendo a segunda principal causa de morte por câncer entre os homens. A doença fica atrás do câncer de pulmão e à frente do câncer de fígado e pâncreas.

Esse pode ser um reflexo das mudanças de posicionamento da Força Tarefa de Serviços Preventivos, considerando que as chances de cura para o câncer de próstata são muito menores quando a doença é diagnosticada em estágio avançado. 

Além disso, vale considerar que as projeções estão sujeitas a mudanças e não são determinantes do que de fato irá acontecer nos próximos vinte anos. De todo modo, o estudo nos oferece algumas orientações importantes a respeito do perfil dos pacientes urológicos até 2040, e nos lembra que a saúde do homem vai muito além da próstata. 

 

Câncer de próstata em homens negros: o que muda?

Câncer de próstata em homens negros: o que muda?

Diversos estudos apontam que homens negros têm mais riscos de desenvolver câncer de próstata. Além disso, os tumores parecem ser mais agressivos nestes pacientes. 

Um estudo realizado em 2020 e publicado no Jama Network comparou a eficácia da vigilância ativa em pacientes de diferentes raças. O número de afro-americanos que tiveram progressão da doença foi 11% maior do que o de homens brancos que também lidaram com esse problema num período de 7,6 anos. 

Entretanto, neste estudo, a mortalidade em decorrência do câncer de próstata foi menor entre os homens negros do que os de outras raças. Os motivos ainda não são certos e podem estar relacionados a um acompanhamento mais minucioso desses pacientes, por fazerem parte de uma investigação clínica. 

Afinal, outros estudos apontaram justamente o contrário: homens negros têm duas vezes mais chances de morrer de câncer de próstata do que aqueles de outras raças. 

De todo modo, essas diferenças parecem sustentar a teoria de que devemos acompanhar mais de perto a incidência e progressão do câncer de próstata em homens negros. Inclusive, pouquíssimos estudos envolvendo a vigilância ativa incluíram pacientes negros. 

Urologista em BH – Entendendo o risco aumentado para homens negros

Já é consenso entre a comunidade médica que a genética é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de próstata. Isso significa que um homem com parentes de primeiro grau com a doença possuem mais chances de desenvolvê-la do que aqueles que não têm.

Além disso, um estudo realizado ainda neste ano demonstrou que homens com ancestralidade africana têm uma pontuação de risco genético para câncer mais de duas vezes maior do que aqueles de ancestralidade europeia.

Entretanto, para além da ancestralidade e fatores genéticos, outras questões também parecem favorecer o desenvolvimento do câncer de próstata em homens negros.

A primeira delas é a obesidade. Um estudo de 2019 avaliou como as associações entre obesidade, ambientes obesogênicos e o racismo estrutural podem variar de acordo com a composição racial de diferentes países. Uma das conclusões da pesquisa foi que o racismo, trauma racial e fatores socioeconômicos aumentam os riscos de ter obesidade.

O status socioeconômico também tem um papel significativo nos cuidados com a saúde, pois está associado a maiores chances de desenvolver câncer por falta de acesso a tratamentos médicos pagos. Essa é uma realidade especialmente nos Estados Unidos, onde não a população não tem atendimento médico gratuito. 

Por fim, o preconceito racial também possui um papel importante nos altos índices de câncer de próstata em homens negros. Um estudo publicado no periódico Urology encontrou uma  disparidade racial significativa: eles possuem menos chances de passar pelos exames de rastreamento da doença e até mesmo de receberem indicação médica para tal. 

Todos esses fatores demonstram que ainda temos um longo caminho a percorrer quando o assunto é saúde e igualdade racial. 

Acredito que uma das principais medidas que podemos tomar para mudar esse cenário é fazer com que informações seguras a respeito do câncer de próstata circulem entre homens de diversas comunidades, tornando-os cientes de seus direitos enquanto pacientes e do seu risco real de desenvolver a doença. Assim, poderão se tornar protagonistas de sua própria saúde, independentemente da raça ou da cor.

Síndromes genéticas e o câncer urológico

Síndromes genéticas e o câncer urológico

A maioria dos tumores não têm causas hereditárias. Entretanto, as pessoas que são portadoras de mutações genéticas causadoras de cânceres urológicos precisam estar cientes de seus riscos para conhecerem as medidas de prevenção e rastreamento da doença. 

Em sua maioria,  as mutações genéticas são autossômicas dominantes, o que significa que um portador tem 50% de chance de transmitir o gene causador de câncer para cada filho. 

Felizmente, hoje já contamos com o rastreamento genético, tecnologia capaz de diagnosticar síndromes causadoras de câncer. Isso possibilitou a implantação de diretrizes globais para o manejo desses pacientes e também a identificação de portadores assintomáticos nas famílias. 

Quando o assunto é câncer urológico, muitas das manifestações de síndromes genéticas podem estar envolvidas, aumentando significativamente as chances de o paciente ter tumores no rim, bexiga, próstata ou testículos. 

Síndromes genéticas causadoras de câncer de rim

O carcinoma hereditário de células renais representa cerca de 5% a 8% de todos os tumores de rim. Alguns sinais de que o paciente pode ser portador de alguma síndrome hereditária causadora da doença são histórico familiar de câncer renal, tumores bilaterais ou multifocais e idade jovem (menos de 46 anos). 

Até o momento, estão registradas pelo menos sete síndromes genéticas causadoras de câncer de rim: Von Hippel-Lindau, Birt-Hogg-Dube, carcinoma papilar de células renais hereditário, leiomiomatose hereditária, câncer renal de succinato desidrogenase, esclerose tuberosa e síndrome de Cowden. Elas estão associadas, respectivamente, à mutações nos seguintes genes: VHL, FLCN, MET, FH, SDHB/C/D, TSC1/2 ou PTEN.

Síndromes genéticas causadoras de câncer de bexiga

O câncer de bexiga está associado, principalmente, à Síndrome de Lynch, previamente conhecida como câncer colorretal hereditário não polipóide. Trata-se de de uma mutação genética autossômica dominante que pode se manifestar a partir de mutações nos genes MSH2 ou MLH1. 

Além de neoplasias da bexiga, a Síndrome de Lynch também pode causar tumores na uretra e na pelve renal, aumentando os riscos de desenvolver a doença em até 22%, na comparação com a população geral. 

Síndromes genéticas causadoras de tumores na próstata

Aproximadamente 42% dos casos de câncer de próstata podem ser atribuídos a fatores familiares ou hereditários, sendo que o histórico familiar da doença é um dos principais fatores de risco. 

Ao contrário de outros tipos de tumores, tudo indica que a suscetibilidade do câncer de próstata seja consideravelmente mais complexa, com o envolvimento de diversos genes. Até o momento, os genes de alta permanência associados ao desenvolvimento desse tipo de neoplasia são o BRCA 1 e BRCA2, especialmente este último, que pode aumentar o risco de ter a doença em até 40%. 

Além de serem caracterizados pelo diagnóstico precoce da doença, os tumores causados por mutações nesses genes também costumam ser mais agressivos e atingir estágios mais avançados em comparação com a população em geral. 

Síndromes genéticas causadoras de câncer de testículo

Aproximadamente 2% dos pacientes com tumores de células germinativas testiculares têm um parente de primeiro grau afetado pela doença. Estima-se que o risco aumente em até 10 vezes para irmãos e até 6 vezes para filhos de pacientes com esse tipo de tumor. 

Por se tratar de um câncer raro, ainda é difícil determinar quais são exatamente as mutações genéticas capazes de aumentar os riscos de desenvolver a doença. 

Até o momento, as evidências sugerem que alelos específicos em genes envolvidos na diferenciação de células germinativas seriam os responsáveis pelo risco familiar de homens com tumores no testículo. 

Se você desconfia que pode ser portador de alguma dessas síndromes, procure o urologista e considere fazer aconselhamento genético. Confirmar o diagnóstico por meio do rastreamento genético possibilita que você realize exames importantes periodicamente, para assim tratar o tumor em estágios iniciais e até mesmo preveni-los. 

Conheça os tipos de câncer de rim e as diferenças entre eles

Conheça os tipos de câncer de rim e as diferenças entre eles

Nem todo câncer de rim é igual e isso é muito importante para pensarmos no prognóstico e tratamento do paciente. Esse é um órgão bastante complexo, formado por estruturas de células diversas que podem todas passar por processos carcinogênicos e se multiplicarem até formarem tumores. 

Podemos dizer que o câncer de rim se divide em duas grandes categorias chamadas carcinoma de células renais ou tumores corticais renais, e tumores uroteliais ou carcinoma de células transicionais. Existem muitos outros subtipos de carcinoma de células renais e ainda mais tipos de câncer de rim considerados raros, então vou explicar um pouco sobre cada um. 

Carcinoma de células renais

Até 90% dos casos de câncer de rim correspondem a carcinomas de células reais. Esse tipo de tumor se desenvolve na parte principal do rim, que contém as estruturas que chamamos de túbulos renais. 

Cada rim humano contém milhões de néfrons, unidade funcional do rim responsável pela formação da urina. Cada néfron está associado a um túbulo renal, que se unem para formar dutos condutores da urina. Todo tumor desenvolvido nessa região é chamado de carcinoma de célula renal ou cortical renal, mas nem todos eles são malignos. 

Carcinoma de células renais claras: Esse tipo de câncer de rim corresponde a 7 em cada 10 casos registrados aqui no Brasil. Ele possui esse nome porque quando analisamos suas células cancerosas sob o microscópio, elas têm uma aparência clara ou pálida. 

Tumores papilares: Correspondem a 10 a 15% dos tumores renais, e formam pequenas projeções semelhantes a um dedo no tumor, por isso se chamam papilares. Existem, também, mais dois subtipos de tumores papilares, sendo que o timo 1 é mais comum e cresce  lentamente, enquanto o tipo 2 é muito mais agressivo e imprevisível. 

Além disso, os tumores papilares estão associados a algumas síndromes genéticas hereditárias, e se o médico suspeitar que esse pode ser o seu caso, ele poderá sugerir um teste genético. Ter certeza de que o paciente é portador desse tipo de síndrome pode oferecer informações muito úteis para traçarmos um plano de tratamento eficaz.

Carcinoma cromófobo de células renais: Correspondem a 5% a 10% dos tumores de células renais. Assim como o tumor de células renais claras, ele também tem aparência clara sob o microscópio, mas podem atingir tamanhos significativos. Apesar disso, são considerados tumores menos agressivos. 

Tumores de ducto coletor: Considerado extremamente raro, esse tipo de tumor é muito agressivo e costuma não responder ao tratamento convencional. 

Tumores não classificados: Esses tipos de câncer de rim não se parece com nenhum outro tipo de tumor sob o microscópio, e geralmente são muito agressivos. Correspondem a 3% a 5% dos tumores renais.

Carcinoma de células transicionais 

Os tumores uroteliais começam no revestimento da pelve renal, onde os túbulos renais deixam a urina. Como esse revestimento é formado por células de transição que se parecem com aquelas que revestem os ureteres e a bexiga, esse tipo de tumor pode se parecer com um com um tumor de bexiga sob o microscópio. 

Outra semelhança com o câncer de bexiga é que esse tipo de tumor está frequentemente associado ao tabagismo ou à exposição a determinados químicos industriais. 

Tipos muito raros de câncer de rim

Existem dois tipos de câncer de rim que são excepcionalmente raros: o tumor de Wilms, que costuma acometer crianças e é raríssimo em adultos e o sarcoma renal.

A maioria dos tumores de Wilms é unilateral e costumam crescer e alcançar grandes volumes antes de serem diagnosticados. Não é incomum que a doença seja descoberta quando o tumor já está maior do que o próprio rim, o que não é, necessariamente, um indicativo de metástase. 

Já o sarcoma renal é um tipo raro e muito agressivo de câncer de rim que se desenvolve nos vasos sanguíneos ou no tecido conjuntivo renal. Geralmente, o prognóstico do paciente não é positivo. 

Espero que o post de hoje tenha te ajudado a entender melhor o câncer de rim, que é uma doença considerada silenciosa e perigosa! Se tiver alguma dúvida, pode deixar aqui nos comentários.

Cistectomia radical com neobexiga: vantagens e riscos do procedimento

Cistectomia radical com neobexiga: vantagens e riscos

O tratamento padrão do câncer de bexiga é a remoção completa do órgão por meio de um procedimento chamado cistectomia radical. Uma das possibilidades dessa técnica é a criação de uma nova estrutura para armazenar a urina, chamada de neobexiga. 

Mesmo sem utilizar esse recurso, a cistectomia radical é um procedimento complexo: a região da pelve é estreita e repleta de estruturas delicadas do sistema reprodutor, digestivo e excretor, além de muitos nervos responsáveis por controlar todas essas funções. 

A criação da neobexiga é, portanto, um grande desafio técnico e por isso só deve ser realizada por cirurgiões experientes. Nesse sentido, a cirurgia robótica traz vantagens para o procedimento, já que oferece ainda mais precisão e controle para os movimentos do cirurgião, além de possibilitar uma visualização aumentada e em 3D que seja impossível a olho nu. 

Como a neobexiga é feita

Podemos dizer que a confecção da neobexiga é um processo artesanal, já que ela é feita a partir de aproximadamente 50 cm da parte final do intestino delgado do paciente. Vamos manipular esse tecido removido para transformá-lo num reservatório esférico, com a capacidade de se encher e esvaziar de acordo com os estímulos nervosos, e conectá-los aos ductos urinários e à uretra.

Sem a confecção de uma neobexiga, a urina será eliminada por meio de um tipo de estoma, feito a partir da exteriorização de ductos também criados a partir do íleo pelo abdômen, e coletada numa bolsa que deve ser utilizada o tempo todo. Esse procedimento é chamado de conduto ileal, naturalmente, o paciente não tem continência da urina. 

Vantagens e desvantagens desse procedimento

Sem dúvida, a principal vantagem da neobexiga é não precisar fazer o estoma ou lidar com possíveis complicações da urostomia. Infelizmente, em muitos casos a utilização de uma bolsa coletora traz mesmo um impacto na qualidade de vida e autoimagem do paciente, que sente vergonha do estoma e tem medo do estigma social. 

Além disso, em relação aos pacientes que fizeram o conduto ileal, aqueles que possuem a neobexiga têm melhor função sexual pós-operatória. A continência urinária tende a ser normal ou quase normal, o que é um dos principais objetivos da neobexiga. 

Por outro lado, a neobexiga oferece algumas desvantagens, como o risco de incontinência urinária noturna, bem como necessidade de intenso treinamento pós-operatório, para que a neobexiga se expanda e a continência seja atingida. 

Outra desvantagem é o potencial para complicações causadas pela reabsorção de componentes que não foram eliminados na urina. 

E, por fim, a técnica cirúrgica de construção da neobexiga é muito mais complexa, principalmente em comparação ao conduto ileal, então as habilidades e experiência do cirurgião devem ser sempre levadas em consideração ao escolher a neobexiga. 

Espero que esse post tenha te ajudado a compreender melhor esse tipo de procedimento! E se você quiser se informar melhor a respeito do câncer de bexiga e as possibilidades de tratamento, tenho muito material sobre o assunto aqui no blog. Clique aqui para conferir! 

Biomarcadores na urina ajudam a detectar o câncer de próstata

Biomarcadores na urina ajudam a detectar o câncer de próstata

Atualmente, o diagnóstico do câncer de próstata é feito, de maneira geral, com a associação entre o exame de PSA (antígeno específico prostático) e o toque retal realizado pelo urologista. 

Enquanto o primeiro avalia a quantidade de uma proteína produzida pela glândula no sangue, o segundo é utilizado para verificar o tamanho da próstata e a presença de nódulos. Se for necessário, realizamos, também, uma biópsia.

Entretanto, cada vez mais pesquisas têm revelado moléculas capazes de fornecer indícios precoces não só do câncer de próstata, como também suas formas mais agressivas. Tudo indica que esse tipo de teste poderá ser utilizado cotidianamente como complemento ao exame de PSA e o toque retal.

O primeiro biomarcador do câncer de próstata foi o PSA

Na década de 1980, o diagnóstico e a morbimortalidade do câncer de próstata sofreram uma mudança radical quando a dosagem de PSA foi introduzida na prática clínica urológica. Até então, o único biomarcador disponível era a fosfatase ácida prostática (PAP), que se elevava somente quando a doença já estava em estágios avançados

O PSA foi o primeiro biomarcador, ou seja, uma molécula detectada no sangue, que foi capaz de identificar que algo estava errado com a saúde da próstata, ajudando no diagnóstico precoce da doença. 

Entretanto, essa molécula não aponta somente a existência de câncer. Já os níveis de PSA no sangue também podem ser alterados pela hiperplasia prostática benigna, prostatites ou mesmo lesões na glândula. Ou seja, sozinho, o PSA não diagnostica o câncer de próstata.

Outro aspecto limitador desse biomarcador é que ele não é capaz de dizer se o tumor é agressivo ou de crescimento lento, dificultando na hora de escolher o melhor plano de tratamento para o paciente. 

Nos anos 1980 e 1990, isso fez com que muitos homens passassem por muitos procedimentos invasivos desnecessariamente ou mesmo tivessem diagnósticos superestimados, iniciando tratamentos quando a vigilância ativa seria, idealmente, uma escolha mais acertada.

Marcadores de câncer de próstata na urina apontam para diagnóstico de câncer

Até o momento, dois biomarcadores parecem oferecer melhoras no diagnóstico precoce do câncer de próstata. O primeiro é a calicreína humana 2 (HK2), que pode ser rastreada por exames no sangue, e o segundo é o PCA3, antígeno ligado especificamente a esse tipo de tumor, rastreado na urina.

O PCA3 possui boa sensibilidade e especificidade, sendo capaz de oferecer importantes informações a respeito da formação do tumor e diferenciando-o de outras doenças da próstata. Sua eficácia se baseia no fato de que as células cancerígenas produzem até 100 vezes mais RNAm do gene PCA3 do que as células prostáticas saudáveis. 

Apesar de ter sido identificado em 1995, a adoção desse marcador ainda é relativamente baixa, devido à sua coleta um pouco desconfortável: envolve sedimentos do primeiro jato de urina após intensa massagem da próstata. 

Atualmente, costuma ser mais indicado para homens que já têm diagnóstico de câncer de próstata e estão sob vigilância ativa, como forma de monitoramento do avanço da doença. 

Outras pesquisas continuam em andamento para ajudar a diagnosticar o câncer de próstata mais cedo e com mais precisão, então continuo de olho para proporcionar, sempre, o melhor tratamento possível para meus pacientes. 

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