Um dos maiores desafios no tratamento dos tumores da próstata é o câncer resistente à castração. Esse tipo de neoplasia não responde ao tratamento de bloqueio hormonal, que costuma ser necessário em muitos casos. Como consequência, o prognóstico para os pacientes diagnosticados com esse tipo de tumor, que é agressivo, costuma ser pessimista, especialmente quando a doença já entrou em metástase.
Muitas pesquisas em tratamentos experimentais têm sido desenvolvidas com o intuito de prolongar a vida desses pacientes e oferecer mais possibilidades de cura. Um deles está na fase três de um ensaio clínico em que o número de mortes em decorrência da doença diminuiu em 40% em relação aos pacientes que receberam o tratamento padrão.
Estratégia de tratamento é mais direcionada e sofisticada
O estudo foi publicado no The New England Journal of Medicine, e acompanhou 831 pacientes com doença avançada em 10 países, por aproximadamente 20 meses. Esse novo tratamento é chamado de lutetion-177-PSMA-617 ou LuPSMA, e consiste numa molécula radioativa capaz de localizar uma proteína presente na superfície das células do câncer de próstata.
Células saudáveis da próstata não contém a proteína chamada PSMA, ou contém pequenas quantidades, de maneira que o tratamento afeta somente as células doentes, causando poucos danos ao tecido próximo do tumor. Entretanto, para se submeter ao tratamento, os pacientes precisam ser testados para essa proteína, que pode ser identificada em exames de imagem.
Como o estudo foi conduzido
Ao todo, 831 homens com câncer de próstata metastático resistente à castração foram divididos em dois grupos, sendo que um deles recebeu somente o tratamento padrão e o outro recebeu o tratamento padrão e o experimental.
21 meses depois, os resultados demonstraram que a progressão do câncer foi mais atrasada no grupo que recebeu o tratamento com LuPSMA: 8.7 meses em relação a 3.4 no grupo controle. Além disso, o tratamento foi associado a uma sobrevivência melhor de forma geral, com 15.3 meses versus 11.3 meses.
Os tumores dos pacientes que receberam o tratamento experimental foram mais propensos a encolher, seus níveis de PSA eram mais propensos a cair, e o risco de o câncer progredir foi reduzido em 60%.
Além disso, o tratamento do LuPSMA foi bem tolerado no geral, mas incluiu efeitos colaterais como fadiga, náusea, problemas renais e supressão da medula óssea. Embora o impacto na qualidade de vida seja relativo, os pesquisadores ressaltam que ainda é necessário aprofundar os estudos a respeito de quando e como utilizar esse tratamento, já que quando o paciente tem poucos anos de expectativa de vida, esses efeitos colaterais podem ser problemáticos.
Caso seja aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), LuPSMA será a primeira droga direcionada à proteína de PSMA a entrar para o mercado. Vale ressaltar, entretanto, que o estudo tem suas limitações.
Trata-se de um estudo randomizado, mas devido às dificuldades de conduzir um estudo duplo-cego com um tratamento radioativo, o estudo foi aberto: tanto os pacientes quanto os médicos sabiam se estavam ou não recebendo o tratamento. Isso foi um desafio porque alguns pacientes ficaram decepcionados ao saber sua designação e se retiraram do estudo, por exemplo.