Há alguns dias, eu contei aqui no blog 5 coisas que a Inteligência Artificial pode mudar na medicina. Como eu disse, essa tecnologia permite que computadores sejam treinados para cumprir funções específicas ao processar grandes quantidades de dados, reconhecendo padrões neles.

O potencial é tamanho que um robô cirurgião conseguiu, sozinho, costurar duas partes do intestino de um porco com sucesso.

Isso mesmo: sozinho. É o STAR (Smart Tissue Autonomous Robot – Robô Autônomo Inteligente para Tecidos), robô cirurgião que promete realizar, de forma autônoma, procedimentos até nos tecidos moles mais delicados.

Desenvolvido nos Estados Unidos, esse robô tem um nível de independência bem mais elevado que os robôs cirurgiões atuais, que já são muito utilizados especialmente na urologia (e que eu vivo falando sobre por aqui).

O segredo está na combinação visão + programação + banco de dados + técnica cirúrgica, que permite que o STAR tenha, inclusive, poder de decisão. Entenda:

 

Visão

Nós, cirurgiões, usamos a visão para verificar o estado do tecido. O robô também. Ele é equipado com câmeras 3D com sistema de visão noturna que permitem identificar, com detalhes, toda a área que será operada. Com essas informações visuais, ele consegue acessar o banco de dados e definir a técnica cirúrgica mais adequada para cada caso.

 

Programação + banco de dados

Essa parte equivale à mente do cirurgião, que é a fonte de conhecimento para tomada de decisões. O STAR não é dotado de um sistema de redes neurais ou qualquer coisa assim, mas foi programado para realizar diversas técnicas cirúrgicas e é dotado de um poderoso banco de dados, que é a parte inteligente do robô.

É por meio dele que o equipamento consegue escolher a técnica mais apropriada para cada operação, sem que ninguém indique quais movimentos ele deve executar.

 

Técnica cirúrgica

Como eu acabei de mencionar, o STAR foi programado para realizar diversas técnicas cirúrgicas. E, para isso, ele conta com uma espécie de braço mecânico equipado com um sensor que mede tensão e força para realizar suturas ou cortes com bastante precisão.

 

O teste

Tudo isso se mostrou eficaz durante uma cirurgia em que o STAR conseguiu juntar, com absoluto sucesso, duas partes do intestino de um porco.

A máquina alcançou o desempenho de outras técnicas de cirurgia em questão de posicionamento de agulha, espaçamento entre os pontos e tensão, quantidade de erros e possibilidade de a sutura se romper.

Os autores do experimento, liderados por Peter Kim, do Sistema Nacional de Saúde Infantil de Washington, relataram que o robô conseguiu superar até mesmo operações feitas via laparoscopia e cirurgias assistidas por robôs não-autônomos.

O que é impressionante, visto que o abdômen de um mamífero é macio, deformável, delicado e contém vasos sanguíneos e órgãos com grande risco de dano durante a cirurgia. Sendo assim, o STAR conseguiu executar várias tarefas simultaneamente, conseguindo minimizar o risco de danos colaterais.

O robô conseguiu “ver” o ambiente em que estava trabalhando, “sentir” as características do tecido sobre o qual estava operando e “reagir” às mudanças ambientais que ocorreram.

 

Porém…

Isso não sinaliza a extinção dos cirurgiões. Até mesmo porque o robô recebeu auxílio humano para a realização de certas tarefas e cada movimento foi monitorado pelos especialistas,

Além disso, o projeto foi desenvolvido para o robô ter autonomia supervisionada. Ou seja, para estar o tempo todo acompanhado por médicos. Afinal, máquinas podem quebrar, sofrer os efeitos de uma oscilação na rede elétrica ou, por falha de programação, realizar um procedimento inadequado.

A ideia é que o STAR seja usado para expandir a capacidade humana, e não substituí-la.

É muito importante entender e ter sempre em mente que nada substitui, nem nunca substituirá, o papel fundamental do médico. Nenhum robô, por mais desenvolvido que seja, consegue ter o tato e o contato humano que o médico tem (e precisa ter!) com o paciente.

Outro ponto é que tudo ainda é novidade. Sim, a tecnologia avança de maneira muito rápida. Mas ainda vai demorar até que esse tipo de tecnologia esteja totalmente desenvolvida e disponível para os hospitais do mundo todo.

Muita coisa ainda precisa ser estudada, discutida, viabilizada e definida. E, como eu já disse aqui no blog, o jeito é aguardar (e nos preparar para) o que o amanhã nos reserva.