Quando o câncer de próstata chega no seu estado mais grave, há poucas opções terapêuticas a serem exploradas e essa é a razão pela qual insistimos no diagnóstico precoce.

Mas temos uma boa notícia para pacientes em estágios mais avançados da doença: de acordo com recentes estudos, a combinação entre medicamentos antitumorais e a terapia hormonal pode aumentar a vida de pacientes em estágio avançado e reduzir a progressão da doença.

Dois estudos apresentados no Encontro Anual da Sociedade Americana de Oncologia (Asco), maior evento mundial de oncologia, que aconteceu no início deste mês nos Estados Unidos, chegaram a esse resultado: o TITAN e o ENZAMET.

O TITAN avaliou a eficácia e a segurança da apalutamida, uma molécula pertencente a uma classe de medicamentos que inibem a função normal dos hormônios masculinos, como a testosterona (que alimenta e faz crescer o câncer de próstata).

Para chegar ao resultado, o estudo contou com a participação de 230 instituições em todo o mundo e mais de mil pacientes, todos com câncer de próstata metastático e, em média, 68 anos de idade.

Eles foram divididos em grupos: o primeiro recebeu a terapia hormonal junto com o medicamento apalutamida e, o outro, um placebo combinado com a terapia hormonal. Após 24 meses de tratamento, a intervenção combinada com a droga gerou uma redução de 33% no risco de morte e uma queda de 58% na chance de progressão da doença.

Com base nesses dados, a expectativa agora é que a apalutamida obtenha a aprovação da agência reguladora dos Estados Unidos para ser utilizada no câncer de próstata avançado já nos próximos meses.

Já o segundo estudo, chamado ENZAMET, foi o responsável por mostrar a efetividade do bloqueador hormonal enzalutamida. Os cientistas recrutaram 1.125 homens, divididos conforme o tratamento experimental.

O primeiro grupo recebeu o medicamento enzalutamida. O segundo, apenas outros remédios antitumorais. Os participantes também foram subdivididos quanto ao uso combinado ou não da droga odocetaxel, que é um remédio quimioterápico.

Dos 596 homens com tumores maiores e mais graves, 71% dos que receberam enzalutamida continuavam vivos após três anos de estudo. Entre os que receberam outros medicamentos esse número foi de 64%. E, entre os homens que receberam enzalutamida sem docetaxel, 83% estavam vivos, versus 70% do grupo controle.

Agora, os resultados do trabalho serão compilados com os de ensaios similares para que os pesquisadores tenham um conjunto de dados que inclua mais de 10 mil homens. Com esse grande agrupamento de informações, eles esperam poder fazer extensas comparações entre medicamentos e, assim, determinar quais grupos específicos de homens poderão se beneficiar com cada tipo de estratégia de tratamento.

Esse novo uso de drogas já conhecidas é muito animador e reforça a percepção de que, nem sempre, os avanços em termos de benefícios aos pacientes dependem exclusivamente do desenvolvimento de drogas inéditas. Vamos aguardar atentos aos desdobramentos desses estudos e torcer para que ele ofereçam, de fato, um novo caminho para todos nós.