O post de hoje é especialmente direcionado aos pais de primeira viagem, que aguardam ansiosos o nascimento do primeiro filho. Ou mesmo aos mais experientes, prestes a viver mais uma vez a indescritível emoção da paternidade.

Não só como médico, mas como pai de duas meninas, a primeira coisa que me cabe dizer é: parabéns! Bem-vindos a essa aventura tão especial e única na vida de um homem. Mas me dê licença de fazer também uma pergunta básica: como vai seu pré-natal?

Repare que eu não me referi à mãe do seu filho. Estou falando de você mesmo. Pais também fazem pré-natal, sabia? “Mas como, se o bebê é gestado na barriga da mulher? A minha até cresce, mas é pura cerveja, doutor!”.

Claro que eu não me esqueci desse “detalhe”, amigo. A questão é que, assim como a sua companheira, você também deve passar por exames e consultas médicas. Cuidar da sua saúde, afinal, também é uma medida importante para garantir que a criança nasça saudável.

Tão importante, que o Ministério da Saúde inclui o pré-natal masculino entre os procedimentos a serem oferecidos pelas Unidades Básicas de Saúde dos municípios desde 2011. Um de seus maiores benefícios é a detecção precoce de doenças. O parceiro que não sabe que tem sífilis, por exemplo, pode transmiti-la à gestante durante as relações sexuais desprotegidas. A grávida, por sua vez, pode contaminar o feto, o que traz consequências como má-formação, surdez e cegueira.

Durante as consultas, o médico  também investiga o histórico genético do homem, o que ajuda a prever a possibilidade de o filho vir a desenvolver síndromes em geral, doenças cardiovasculares e diabetes.

Quando o sangue da mãe é de Rh negativo, o profissional solicita ainda a identificação do fator Rh do pai. Caso seja discordante do da mãe (isto é, positivo), a criança pode herdar essa característica, condição que exige acompanhamento da gravidez bem de perto. 


Mãe e filho, nesse caso, não podem ter seus fluidos sanguíneos misturados, pois o contato provoca o sistema imunológico materno, que passa a identificar o feto com um “invasor” e, assim, produz anticorpos contra ele.

Relacionamento saudável
Outra grande contribuição do pré-natal masculino é provocar mudanças na cultura machista, que atribui o cuidado com a prole exclusivamente à mãe. Os atendimentos reforçam o papel do pai como cuidador, tão responsável pela saúde e pelo bem-estar do novo membro da família quanto a mulher, e estimula seu envolvimento no parto e no pós-parto.

Em muitos programas disponíveis, o casal também recebe orientações psicológicas, que abordam as mudanças que a chegada de um bebê traz ao relacionamento e como enfrentá-las. Quem tem filhos bem sabe que o puerpério é um verdadeiro furacão que vira tudo de cabeça para baixo:  o sexo, o humor, até o tempo para saudáveis conversas despretensiosas. Sem paciência, resiliência, companheirismo, compreensão e, principalmente, disposição de ambas as partes, a união dificilmente sobrevive à tempestade.

Estamos falando, por fim, de uma oportunidade e tanto para que você insira de vez a prevenção e as visitas regulares a profissionais de saúde na sua rotina para sempre. Ser pai é, afinal, ter mais de uma vida atrelada à sua própria, com todas as dores e delícias inerentes à essa experiência.

Como e onde fazer o pré-natal masculino
A má-notícia é que, embora instituído como política pública pelo Governo Federal, o pré-natal masculino ainda não está disponível, pelo SUS,  em todos as cidades brasileiras. Em algumas regiões, também não há a opção de usufruir de programas similares na rede particular.

A população de Belo Horizonte conta apenas com um projeto do gênero, oferecido no Hospital das Clínicas da UFMG. O problema é que, apesar de gratuito, ele é restrito, voltado apenas a parceiros de gestantes de alto risco e risco habitual.

A solução pode ser adotar medidas alternativas durante o acompanhamento das consultas da mulher. Veja como você pode organizar seu pré-natal:

  • Em primeiro lugar, converse com o obstetra/ginecologista da sua parceira e informe o seu interesse de ter a sua saúde acompanhada
  • Peça informações sobre os testes rápidos e exames de rotina que você deve fazer, tais como:
  • Tipagem sanguínea e Fator RH (no caso da mulher ter RH negativo);
  • Pesquisa de antígeno de superfície do vírus da Hepatite B (HBsAg);
  • Teste treponêmico e/ou não treponêmico para detecção de Sífilis por meio de tecnologia convencional ou rápida;
  • Pesquisa de Anticorpos anti-HIV;
  • Pesquisa de anticorpos do vírus da Hepatite C (anti-HCV);
  • Hemograma;
  • Lipidograma: dosagem de colesterol HDL, dosagem de colesterol LDL, dosagem
  • de colesterol total, dosagem de triglicerídeos;
  • Dosagem de Glicose;
  • Eletroforese da hemoglobina (para detecção da doença falciforme) ;
  • Aferição de Pressão Arterial;
  • Verificação de Peso e cálculo de IMC (índice de Massa Corporal).
  • Leve também o seu cartão de vacinas para consultas e peça que o médico cheque se há necessidade de alguma atualização;
  • Compartilhe leituras e vídeos sobre gestação e puerpério com a mãe do seu filho. Sugiro o clássico “O que esperar quando você está esperando”, livro adaptado para o cinema. Clique AQUI para conferir a versão de sua preferência.
  • Conheça a legislação referente aos direitos dos pais e informe-se sobre como registrar seu filho